Portugal "é visto como o exemplo a seguir no desenvolvimento da investigação científica", afirmou hoje à agência Lusa, em Paris, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago.
Mariano Gago participou, na terça feira, num seminário da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) dedicado à análise da "excepção portuguesa" em termos de crescimento da investigação científica e tecnológica.
O ministro mostrou-se satisfeito com o interesse dos especialistas internacionais da OCDE e pelas sugestões de um seminário onde o caso português foi abordado com "reconhecimento, admiração e espanto".
"Seria interessante ponderar a criação de programas, eventualmente com a colaboração da indústria, para mudança de ramo de licenciados em áreas de muito baixa produtividade directa", adiantou Mariano Gago sobre propostas saídas do seminário.
A sugestão, "que pode ser um instrumento de política para os próximos anos", partiu da OCDE e do presidente da empresa Novabase, Rogério Carapuça, também membro do Conselho Científico da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT), que integrou a delegação portuguesa.
A ideia é que "com um complemento da formação da cultura que tinham adquirido, os jovens licenciados muito mais facilmente se poderiam inserir no mercado de trabalho qualificado".
Todos os números confirmam uma "explosão na área da Ciência e Tecnologia em Portugal nos últimos anos", salientou Mariano Gago, sublinhando que a evolução é tanto mais significativa quanto "Portugal tinha, há trinta anos, níveis de subdesenvolvimento científico generalizado".
"Portugal é hoje um país com uma balança de pagamentos tecnológica positiva, de há três anos para cá, e que exporta serviços em áreas como as tecnologias de informação, telecomunicações, gestão financeira, energia ou estudos técnicos", referiu.
Praticamente todo (97 por cento) o investimento de Portugal na Agência Espacial Europeia (ESA) é recuperado por empresas portuguesas, adiantou Mariano Gago, como exemplo de que o aumento da massa crítica da investigação, no sector público e privado, produz resultados concretos no tecido económico.
A OCDE reconhece também Portugal como um país atraente para os investigadores estrangeiros, "e não apenas de países menos desenvolvidos mas sobretudo de pessoas com origem em países onde a Ciência e Tecnologia está muito avançada", acrescentou.
"É também surpreendente a ligação desta evolução recente com a chegada de novas classes e grupos sociais à educação superior em Portugal após 1974, nomeadamente a generalização do ensino para as mulheres e a sua entrada na investigação", frisou o ministro.
Quase metade (44 por cento) dos investigadores no activo em Portugal são mulheres, o que ultrapassa em muito as médias dos países da OCDE, acrescentou.
O ministro salientou também que a Ciência e os cientistas gozam em Portugal de um prestígio fora do comum noutros países da OCDE, como notou, durante o seminário, um especialista francês ao referir-se à "retracção do interesse" dos jovens pelas áreas científicas.
"O desenvolvimento científico, de forma tão sistemática, só é possível porque a população portuguesa acredita nele. Exige que existam jovens que estudem Ciência, que os pais queiram que eles estudem e que a sociedade acredite", afirmou Mariano Gago.
DN
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