Páginas

So faltam meses, dias, horas, minutos, e segundos para o ano 2012

Madeleine

Banner1
Click here to download your poster of support

Radio Viseu Cidade Viriato

sábado, 3 de abril de 2010

Centenas de quilos de cocaína sobrevoam todos os dias o Atlântico rumo a Portugal ...

Num mês a Polícia Judiciária deteve em Lisboa 18 "correios" de droga. As rotas dos traficantes estão a alterar-se, mas os aeroportos nacionais continuam a ser a principal porta de entrada.
A maior parte da cocaína que chega a Portugal destina-se a  Espanha
A maior parte da cocaína que chega a Portugal destina-se a Espanha

Fazer chegar à Europa centenas ou mesmo toneladas de cocaína a bordo de navios parece estar a cair em desuso. A tendência actual, recuperando, mas em grande escala, uma actividade que há muitos anos parecia ter sido abandonada, é utilizar passageiros de linhas aéreas que carregam no organismo entre 500 gramas a dois quilos de droga. Por vezes, para efectuarem um percurso entre Lisboa e São Paulo, passam por locais tão improváveis como Amesterdão ou Lima. Só no espaço de um mês, no Aeroporto da Portela, foram detidos 18 destes "correios" e apreendidos mais de 15 quilos de estupefaciente.

"Há informação quase diária de portugueses detidos nos diversos aeroportos europeus, mas também no Peru, no Brasil, na Colômbia ou na Venezuela", explica um dos investigadores da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ) contactado pelo PÚBLICO. Essas pessoas, adianta o mesmo responsável, são pagas em quantias que variam consoante a quantidade que transportam e o risco que enfrentam.

Quanto recebe um "correio"? São sempre valores muito distantes daqueles que poderá render meio quilo de cocaína nas ruas de uma qualquer cidade europeia, mesmo que as estruturas dos traficantes sejam obrigadas a pagar diversas viagens de avião, que podem incluir três continentes (Europa/América do Sul/África), alojamentos, refeições e pagamento pelo transporte.

"Mulas" ou "cagões"

Por trás dos grupos de "correios", que nos meios policiais também são conhecidos por "mulas" ou "cagões", estão quase sempre estruturas de traficantes com elevados níveis de sofisticação. Essas estruturas, de acordo com o que a UNCTE tem vindo a desvendar, são muitas vezes constituídas por nigerianos. "Têm [os nigerianos] grupos em todo o lado. Em Portugal, em Espanha, na Europa inteira. Mas também no Brasil, no Peru, na Colômbia e na Venezuela. Onde chega ou de onde parte um "correio" há, de certeza, alguém da estrutura à sua espera e a encaminhá-lo", diz um investigador.

A utilização de africanos como "correios" é outro dos fenómenos em crescendo. A PJ, tal como as restantes polícias de investigação criminal europeias e sul-americanas, têm vindo a identificar, sobretudo, guineenses, mas também muitos marfinenses e marroquinos. Muitas destas pessoas apenas falam os dialectos locais dos seus países ou uma só língua. Ainda assim são utilizados em novas e diversificadas rotas, que os levam a Amesterdão, a Frankfurt, a Lima ou a São Paulo. "Há muitos provenientes do Brasil e que são detectados em trânsito em Lisboa e cujo destino final é Marrocos, a Guiné ou a Costa do Marfim. Porquê? Esse ainda é um enigma. Faz parte do acordo [com a estrutura dos traficantes]? Talvez...", referem os polícias.

Por outro lado, o facto de não dominarem a língua de determinados países pode ser tido como um trunfo por parte dos traficantes, que ficam assim menos expostos quando uma das suas "mulas" é presa.

A prisão de alguém que transporta droga no organismo (também há, mas numa escala bem mais reduzida, aqueles que a transportam em cintas especiais em redor do corpo ou na bagagem) leva, ainda assim, a abrir portas aos investigadores. No caso recente das investigações portuguesas as diligências posteriores à detenção dos "correios" levaram a PJ a mais cinco pessoas directamente relacionadas com o tráfico.

Um "correio" é, normalmente, uma pessoa nova (os últimos 18 detidos em Portugal têm entre 27 e 48 anos, sendo dominante o grupo compreendido entre os 30 e os 35), a quem a organização paga o passaporte (quase sempre são apreendidos documentos novos) e as viagens e que é submetido a testes de credibilidade. São quase sempre homens (nos últimos detectados em Lisboa apenas existia uma mulher) e muitos deles são desempregados. É muito raro encontrar um reincidente. Na melhor das hipóteses uma pessoa consegue transportar no organismo até dois quilos de droga.

Portugal, dizem os investigadores policiais, é quase sempre um lugar de passagem da cocaína, a qual tem como destino final a Espanha e outros países ocidentais. A maior parte dos "correios" que têm vindo a ser detidos recolhe a cocaína em São Paulo. Ao todo, só deste destino, chegam cerca de 500 pessoas diariamente. Tendo ainda em conta que a transportadora portuguesa é a que mais ligações e melhores relações possui com o Brasil e alguns dos países africanos referenciados no tráfico, é então fácil de explicar o porquê de ser em Lisboa que mais detenções de "correios" se realizam.

O retomar das rotas aéreas por parte das organizações de tráfico de cocaína tem pouco mais de dois anos. Pode explicar-se, dizem os investigadores, pelo reforço da vigilância nas rotas marítimas.

Porquê arriscar a utilização diária de dezenas de "correios" nos voos intercontinentais em vez de um contentor dissimulado num navio? "Pelos vistos, as rotas aéreas, com a utilização das "mulas" que transportam centenas de quilos de cocaína, garantem aos fornecedores (colombianos, na maioria dos casos) os lucros desejados", diz a polícia.

O Publico

Sem comentários: