O stresse crónico afecta o processo de tomada de decisões, levando as pessoas a depender mais de hábitos e menos de comportamentos orientados por objectivos, demonstra um estudo de investigadores portugueses.
De acordo com o estudo, publicado na revista "Science", são vastas as implicações da descoberta, na medida em que envolve desde aspectos da vida quotidiana até processos patológicos, como as toxicodependências ou as perturbações obsessivo-compulvisas.
O estudo foi realizado por uma equipa coordenada por Nuno Sousa, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, e Rui Costa, na altura nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos e actualmente investigador no programa de Neurociência da Fundação Champalimaud.
Este trabalho revela que o stresse crónico altera a estrutura de circuitos neuronais que ligam o córtex pré-frontal, comparável à memória RAM de um computador, ao estriado, a zona do cérebro relacionada com as decisões.
O que se passa, segundo Nuno Sousa, é que o stresse promove a atrofia das dendrites dos neurónios do circuito associativo responsável pelos comportamentos orientados por objectivos (córtex pré-frontal medial e estriado dorsomedial) e aumenta as dendrites no estriado dorsolateral, o circuito sensório-motor envolvido nas acções habituais. Isso torna o comportamento dos sujeitos submetidos ao stresse "mais dependente de hábitos e menos de comportamentos orientados por objectivos", explicou, à agência Lusa, o investigador coordenador do Domínio de Neurociências do ICVS e director do curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho.
"Trata-se obviamente de um momento de enorme importância para todos nós, tanto mais que o estudo é assinado apenas por portugueses e com um trabalho experimental feito em Portugal [no ICVS]", assinalou.
A equipa foi constituída por sete elementos que pertencem ao Domínio de Investigação em Neurociências do ICVS, sendo o primeiro autor Eduardo Dias-Ferreira, um aluno de doutoramento que está agora a continuar o estudo com Rui Costa. Entre os projectos, Nuno Sousa salientou os mais directamente ligados a este trabalho, centrados na tentativa de compreender melhor os mecanismos moleculares e funcionais envolvidos na conclusão a que chegaram. Esses desenvolvimentos terão por objectivo "delinear estratégias que permitam modular os efeitos do stresse nos processos de decisão e eventualmente utilizá-los como estratégias terapêuticas", concluiu.
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