O homem que durante 16 anos fugiu à Justiça, escondendo-se em cavernas e montes de Vieira do Minho, vai ter advogado pago pela população. Depois da sua prisão, ontem, quarta-feira, pela PJ, até já circula um abaixo-assinado de apoio.
Por terras de Aníssó e de Soutelo, são poucos os que admitem ter visto Manuel Cruz, 54 anos, desde a sua fuga, em 1993, da cadeia de Braga, onde cumpria uma pena de dez anos de prisão por homicídio. Deambulando entre os montes das duas freguesias e a casa da mãe, "onde ficava a medo", o homem teve apenas como companhia um cão.
O presidente da Junta de Anissó, curiosamente com o mesmo nome do fugitivo, lembra um encontro numa manhã. "Aproximei-me e chamei por ele. Ele tinha uma foucinha. Mas quando me viu, cumprimentou-me".
Foi então que o autarca lhe perguntou porque é que ele não se entregava à Polícia. A resposta foi simples: "Antes morto do que voltar para a prisão, onde me querem violar". Durante todo este tempo, viveu em cavernas naturais e escavou outros refúgios no monte. Cortou tojo e ervas para se deitar. O primo, pastor como ele, passou muitas vezes por Manuel Cruz. "Há vários lugares que ele tinha para se abrigar. Não era homem de um sítio só".
O presidente da Junta de Freguesia de Soutelo, José Carlos, reconhece que havia "pessoas que lhe deixavam a comida em vários cantos, mas ele só lá ia quando se sentia seguro". O comunicado emitido ontem pela Polícia Judiciária de Braga refere unicamente que ele contou com o apoio de familiares que lhe levavam comida, mas o autarca recorda que, enquanto a mãe foi viva, o centro social da zona lhe deixava ficar de comer. "Mesmo depois da mãe falecer, eles continuaram a deixar a marmita até que foram avisados do perigo do acto. Eu acho mal. Era uma obra de caridade".
Dizem ainda os populares que Manuel fez um pedido antes de ser levado. Quis que o seu cão fosse entregue a um morador de uma freguesia vizinha. Foi ao presidente da junta de Soutelo que confiou o bicho, com a promessa de ser entregue ao novo dono.
Os dois autarcas, que já tomaram a decisão de contratar um "bom advogado" que tire Manuel Cruz da cadeia, recordam também uma tentativa de prisão feita pela GNR. "Mesmo nas barbas dos guardas atirou-se por uma ribanceira e conseguiu escapar", dizem. Pensou-se na altura que teria morrido. A sina de Manuel cruz ficou traçada há cerca de 20 anos quando se desentendeu com uma vizinha por causa de umas cabras. A mulher bateu-lhe, duas vezes, com um pau; o homem deu-lhe um empurrão que viria a revelar-se fatal. A mulher caiu e bateu com a cabeça numa pedra.
O pastor foi julgado e condenado. Conseguiu beneficiar do regime semi-aberto (vinha ao fim-de-semana a casa) e numa dessas saídas fugiu. Agora vai cumprir os oito anos e meio de cadeia que lhe faltam para completar a pena.
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