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Radio Viseu Cidade Viriato

sábado, 18 de abril de 2009

Forcada a Casar ..........

A menina de 11 anos, de etnia cigana, que foi forçada a casar com um rapaz de 18 anos, terá sido raptada pelo tio paterno. A rapariga já regressou a casa dos pais adoptivos, mas apresenta sinais de trauma psicológico.


Entregue à família pela Polícia Judiciária na passada quinta-feira, a menina apresenta sinais que preocupam os pais adoptivos, também eles de etnia cigana, a residirem na freguesia de Sanguedo, Santa Maria da Feira. "Ela acorda de noite aos gritos e a chamar por nomes Urbina Monteiro e Tiago Robalo.


Dizem que a menina "não anda bem" e tem "pesadelos" e que apresenta também alguns "queixumes" físicos por causa da experiência a que foi submetida. Sinais que não estão a ter acampanhamento especializado.


Indignados com os acontecimentos, os pais que a acolheram com um ano e meio de idade, em circunstâncias que não esclareceram, convergem agora a sua revolta contra o irmão do pai adoptivo, a quem acusam de ser o responsável pelo rapto. Ele, a mulher, o filho e um quarto elemento estão em prisão preventiva, acusados do crime de rapto e outros crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual.


Maria Urbina Monteiro conta que o cunhado e a esposa foram a casa fazer uma visita, na tarde do passado domingo. "A minha cunhada pediu-me para levar a menina ao café para irem comprar cigarros e o meu cunhado ficou na rua". "Vim cozinhar e quando dei conta já tinham ido embora com a criança", contou Maria Urbina Monteiro.


Só mais tarde, por intermédio de outros familiares, acabaria por confirmar que a adolescente se encontrava com o casal e que fora sujeita a um casamento forçado, com o filho dos raptores. "Quando soubemos que a tinham casado o meu marido desmaiou duas vezes", recorda. O pai adoptivo, Tiago Robalo, afirma que não foi no encalço da filha por se encontrar com pulseira electrónica e por isso impedido de se ausentar do local. A opção foi relatar o caso às autoridades.


Maria Urbina Monteiro refere que a criança foi submetida a um ritual cigano de confirmação de virgindade antes do casamento, que lhe está a provocar algum desconforto físico e psicológico, mas que não terá sido abusada sexualmente. "O rapaz esteve deitado com a menina depois do casamento, mas não abusou dela", garante também o pai, que afirma nada ter contra o rapaz. "Ele portou-se muito bem e se o vir dou-lhe um abraço". "A culpa foi do meu irmão que o meteu nesta confusão", diz.


Afirma, ainda, que o jovem de 18 anos conviveu com a menina em Oliveira de Azeméis, concelho onde os raptores e família adoptiva viveram no mesmo acampamento, durante vários anos. "Ele levou-a muitas vezes à escola e sempre se portou bem", garantem. "Queremos que seja feita justiça é com o pai dele. Não lhe perdoamos", dizem.


"A nossa filha tem que estudar e um dia vai casar com quem gostar". "Não concordamos que seja obrigada a casar tão nova e com quem não quer", garante o casal.


"Isto nada tem a ver com as tradições ciganas"


É a primeira vez que acontece o rapto de uma criança de etnia cigana para a forçar a casar. Quem o garante é o presidente da União Romani, Vítor Marques, assegurando ainda que o que se passou com a menina de Santa Maria da Feira "nada tem a ver com as tradições do casamento cigano". Helena Torres, do Gabinete de Apoio às Comunidades Ciganas do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, confirma, considerando que se trata de um "caso de polícia". "Aliás, é a primeira vez que nos damos conta de um caso de uma criança cigana numa família de acolhimento. Ainda mais sendo esta família a fazer a denúncia à PJ, preferindo não tratar a questão dentro da lei da comunidade", aponta Vítor Marques. O presidente da União Romani garante ainda que já é pouco habitual na comunidade haverem casamentos com menores de 17 anos. "Sabemos que muitas miúdas ainda casam prematuramente. Mas já começa a não ser tão cedo", anui Helena Torres. "Começa a haver uma certa consciencialização sobre a maturidade das crianças", justifica Vítor Marques, os contornos do casamento cigano, que começa com o pai do jovem a pedir ao pai da rapariga a sua mão em casamento. Faz-se então uma festa de "pedido de casamento". Normalmente, o casamento só ocorre um ano depois. Até lá, os noivos não se podem ver. Muitas vezes, porém, acontece "fuga", em que os noivos fogem para casar mais cedo ou um deles foge para casar com outra pessoa. A festa do casamento, que começa com a recepção dos convidados, dura normalmente três dias e é suportada por uma colheita feita entre os convidados. A cerimónia ocorre no segundo dia, à meia-noite, após confirmação de que "o casamento não mancha a honra e a dignidade das famílias". Nessa altura, os noivos são vestidos e colocados perante os padrinhos. "Atiram-se amêndoas e flores", revela Vítor Marques. Só no final da festa é que os noivos podem ter contacto entre si.


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