"As mentiras do casal destruíram a Luz. Hoje, o Ocean Club é uma sombra do que foi. A nossa revolta é com o casal, porque foi por causa de uma invenção que destruíram a nossa vida. Muitos ficaram sem emprego e a hipótese de encerramento é cada vez mais provável."
O desabafo, de um ainda funcionário do aldeamento do Algarve – de onde Madeleine desapareceu faz no próximo dia 3 dois anos –, ilustra a 'revolta' para com os McCann. Que são acusados de simular um rapto e de provocar a debandada de turistas da vila algarvia.
Agora, os mais de cem trabalhadores despedidos nestes últimos dois anos prometem avançar para os tribunais e exigir o pagamento dos prejuízos. 'Estamos à procura de um advogado que seja especialista em Direito de Trabalho. O que pretendemos é que seja feita justiça. A empresa alegou despedimentos por quebra de facturação e nas cartas de despedimento referiu expressamente que se deveu ao caso McCann. Foi por causa de eles terem avançado para a versão do rapto que a Luz deixou de ser procurada em termos turísticos. O aldeamento foi o primeiro a sentir a quebra', diz o mesmo funcionário, que declina identificar-se.
Mesmo assim, os trabalhadores do Ocean Club garantem que a empresa teve um comportamento correcto para com eles. 'Depois da balbúrdia que a família McCann provocou, era impossível conseguirmos resistir. Os clientes foram embora, as reservas caíram logo nesse Verão. Os postos de trabalho foram postos em causa.'
A dimensão do descalabro foi tal que, em Maio de 2007, quando Madeleine desapareceu do apartamento, o Ocean Club, que gere 400 moradias, dava emprego a 130 pessoas. 'Hoje somos 27. Mas até quando?', interroga-se a mesma testemunha.
As histórias de desespero são muitas. Mulheres e homens com 40/50 anos que, de repente, ficam sem emprego. 'A vila é pequena e todos foram afectados com o caso. Não há capacidade para arranjar alternativas e há muitas famílias com problemas graves. Gente que tinha mais de 20 anos de casa e agora, de repente, fica sem saber o que fazer. E muitos dos comerciantes também estão a fazer um esforço para aguentar as portas abertas até ao Verão. Só que, se o negócio não melhorar, poderão ser obrigados a fechar', concluiu um ex-funcionário.
A IMPOSSIBILIDADE DO RAPTO DA CRIANÇA
Dois anos depois, o mistério mantém-se. E sem que tenha sido descoberto o corpo da criança, a hipótese de homicídio teve de ser formalmente abandonada. Restam as contradições que dificilmente sustentam a tese de rapto avançada pelos pais e que tornaram o Ocean Club num local amaldiçoado.
Os McCann garantem, então, que deixaram Maddie a dormir com os irmãos e que foi Kate quem deu pela ausência da criança. Seria cerca das 22h00 e, garante o casal, de 15 em 15 minutos algum adulto do grupo vigiaria os quartos para verificar que não entrara nenhum intruso. Nas primeiras horas após o desaparecimento, Kate garantiu que a janela fora estroncada. Um raptor acedera ao quarto e levara a menina.
As análises laboratoriais não confirmaram a tese. Na janela só havia vestígios de ADN de Kate. Não há rasto de qualquer estranho. Também a cama onde a criança teria dormido parece estar intacta. O raptor teria igualmente de passar por duas outras crianças para chegar a Maddie. A hipótese de rede pedófila foi afastada por se tratar de uma criança com apenas três anos. Também é estranho que Madeleine não tivesse gritado nem acordado quando a levaram.
DISCURSO DIRECTO
'VOU SER TESTEMUNHA' (Gonçalo Amaral, ex-inspector da PJ)
– Os empregados do aldeamento pretendem avançar com um processo contra o casal, depois dos despedimentos. Entende a motivação?
Gonçalo Amaral – Não só compreendo como acho que têm razão. Estou disposto a ser testemunha deles, se assim o quiserem. Porque é mentira o rapto.
– Como é que este caso afectou a vila da Luz?
– Hoje, a praia da Luz é uma vila-fantasma. Os ingleses deixaram de ir para ali.
– E os pais devem ser responsabilizados?
– Entendo que sim porque contaram uma mentira. Eles sabem que Madeleine está morte e que não havia raptores.
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