As previsões de uma forte contração económica foram o pretexto para Cavaco Silva manifestar preocupação com a situação do país e para a Oposição exigir ao Governo a apresentação do segundo Orçamento rectificativo.
Perante a dimensão da crise, o presidente da República não ficou calado e confessou, ontem, aos jornalistas que as previsões do Banco de Portugal, divulgadas na terça-feira, que indicam um crescimento negativo de 3,5% "não podiam ser mais negativas". Reconheceu, no entanto, que seria "muito difícil" terem sido diferentes devido à dependência do exterior da economia portuguesa.
"Os números revelados não podiam ser mais negativos e, por isso, todos nós estamos preocupados", disse o chefe de Estado, citado pela Lusa.
Na opinião de Cavaco Silva, apesar das previsões do Banco de Portugal, o mais importante é que, em termos nacionais, se reflicta já sobre qual a posição em que o país se deve colocar para quando termine a crise internacional. E aconselhou o Governo a estabelecer como prioridade o combate ao desemprego.
"O problema do desemprego que deve ser uma prioridade, olhando para aqueles que estão a ser atingidos de forma particular pela crise". Foi a recomendação deixada pelo presidente ao Governo de Sócrates.
Outro conselho de Cavaco foi o da necessidade de "colocar os olhos no futuro", ou seja, "nos factores críticos" que podem permitir ao país "estar na linha da frente da recuperação económica". Dois desses factores críticos, segundo o presidente são a produtividade e a competitividade, sobre os quais "é necessário actuar já hoje", para que o país possa "vencer depois", pelo que a aposta deve ser "no conhecimento", nas universidades e nas empresas.
"Caso contrário, podemos ter crise este ano, ter crise no ano de 2010 e até depois dessa data", alertou, depois de considerar que o país tem de escolher, deixando a mensagem: "Queremos estar na primeira linha da recuperação económica ou que a situação seja tão complicada ou ainda mais complicada do que aquela que hoje atravessamos? Porque se for assim, lamentamo-nos hoje e vamos lamentar-nos no futuro e, como povo diz, é chorar sobre leite entornado".
No Parlamento, onde o CDS-PP marcou um debate de actualidade, a resposta do Governo à exigência do Orçamento rectificativo para que reforço nas áreas sociais foi o silêncio. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, optou por ignorar as declarações de Diogo Feio (CDS-PP), Honório Novo (PCP) e de Luís Fazenda (BE). Todos quiseram saber quando apresentará o Executivo o rectificativo, mas o governantes apenas reafirmou que a linha de rumo traçada pelo Governo "de lançamento de obras públicas vai continuar" e que "o rendimento dos portugueses, que não perderem o emprego vai aumentar". Ao considerar as previsões do Banco de Portugal, "um soco no estômago", Paulo Portas, o líder parlamentar do CDS-PP, acusou o Governo de ter "falhado as previsões" e, por consequência seguir "políticas erradas".
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