Em cinco anos, foram operadas 25 pessoas, mas há mais 45 casos de reatribuição do sexo a decorrer no País.
Pelo menos 70 portugueses fizeram ou estão a fazer operações de mudança de sexo desde 2005, diz ao DN João Décio Ferreira, cirurgião plástico no Hospital de Santa Maria, a única unidade pública que está actualmente a dar resposta a transexuais que pediram a reatribuição do género. Um dos casos mais mediáticos é o de Filipa Gonçalves, filha do futebolista Nené. A manequim revela agora em livro todas os obstáculos que teve de ultrapassar para se tornar mulher.
Santa Maria é a única a lidar com a mudança de sexo. Depois de "ter feito três cirurgias, a consulta do São João fechou, porque dois médicos saíram, estando a consulta em restruturação. Décio Ferreira está reformado mas opera um dia de 15 em 15 dias. Pouco para o necessário, já que todos os anos há seis pedidos. "Se pudesse operar todos os dias, teria sempre trabalho", diz. Apesar de estar acompanhado por internos, "parece que nenhum quer continuar a fazer estas cirurgias", lamenta.
Actualmente, o médico está a acompanhar 42 transexuais. "Já iniciei operações com 35 pessoas, a que se vão juntar mais seis ou sete", refere. Concluídas estão as cirurgias de reatribuição de sexo de 15 mulheres e 7 homens, que antes tinham género diferente.
"Mais de 40 são operações de passagem do sexo feminino para masculino. Nesse aspecto, a mudança de sexo é diferente do habitual, já que noutros países é mais comum serem os homens a mudar de sexo", avança, sem conhecer as razões para os contrastes.
O processo tem início com o diagnóstico de transexualidade. "Tem de haver avaliação psiquiátrica num centro, que depois remete o candidato para outra instituição. Depois de confirmado o diagnóstico pela segunda vez, o pedido é enviado para a Ordem dos Médicos, que tem de dar aval, já que são cirurgias irreversíveis. Há cinco casos em análise. Falamos de uma incompatibilidade entre a anatomia e o cérebro. "A pessoa é o que o cérebro for. E como não se pode mudar o cérebro, muda-se o que se pode: o corpo", explica o cirurgião. O diagnóstico demora pelo menos dois anos, mas pode alargar-se a três.
No caso da mulher, a mudança obriga a muito mais operações. Fazer uma mastectomia, para tirar as mamas, é relativamente rápido, tal como a histerectomia , operação que consiste na retirada do útero, ovários e trompas. Estas cirurgias podem ser feitas por outros especialistas.
Mais complicada é a mudança do sexo propriamente dita. E aqui há duas opções: "Se for um a metoidoplastia é mais rápido. Depois de uma terapia com hormonas, fazemos um pequeno pénis com os tecidos do clitóris e dos pequenos lábios vulvares, bem como o escroto", a partir dos grandes lábios. É possível fazer uma prótese para os testículos, com bolinhas de silicone. Mais complexa é a faloplastia, reconstrução que obriga a inúmeras cirurgias e que implica, no final, a colocação de uma prótese.
Já no caso do homem, a passagem para um corpo feminino é mais simples: utiliza-se parte do intestino, do escroto e do pénis para construir a vagina. A operação de construção mamária segue os parâmetros habituais.
DN
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