Ao sexto dia de buscas o desânimo aumenta: os destroços recolhidos esta quinta-feira não são do A330 e tudo volta à estaca zero, com o mau tempo a agravar a situação. Será alguma vez possível recolher os 228 corpos?
A reduzida visibilidade causada pelo mau tempo que assola a zona a norte do arquipélago brasileiro de Fernando de Noronha - região de confluências inter-tropicais - está a prejudicar o trabalho de buscas do avião da Air France que caiu no passado domingo no oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo. No sexto dia de operação, nenhum pedaço pertencente à aeronave que fazia a ligação Rio de Janeiro-Paris foi recolhido do mar, ao contrário do anteriormente anunciado pelas autoridades brasileiras.
O desânimo aumenta: não há, ainda, qualquer sinal de corpos. "A hipótese de encontrar sobreviventes, ou os corpos das 228 pessoas, é cada vez mais remota", disse ontem um oficial da Força Aérea Brasileira, levantando a hipótese de os corpos estarem presos dentro do aparelho pelos cintos de segurança - e de o aparelho estar sepultado três quilómetros abaixo do nível do mar, em zona montanhosa.
Perante tão escassa informação - e quando as famílias das vítimas começam a criticar os governos dos dois países envolvidos no resgate, França e Brasil -, a Airbus emitiu anteontem de madrugada uma recomendação a todos os seus clientes. A nota, tecnicamente designada "telex de informação sobre acidente" (Accident Information Telex), centra-se nos procedimentos a adoptar em caso de incoerências nas velocidades medidas e foi enviada para todos A330 fabricados pela Airbus (há mais de 300 em actividade).
No seu telex técnico, a Airbus confirmou que o avião enfrentou turbulências extremas, que enviou várias mensagens de falhas ao centro de manutenção da Air France e que havia uma incoerência das velocidades medidas - a possibilidade de erro humano, no entanto, não foi avançada. Estes são os únicos elementos estabelecidos pela investigação oficial francesa desde que o aparelho desapareceu na noite de domingo. A agência gaulesa fez saber, entretanto, que no só final do mês será emitido o primeiro relatório.
"O que sabemos, por enquanto, é que não se avançou muito e que vai ser necessário muito tempo", admitiu Bernard Kuchner, ministro francês dos negócios estrangeiros. Apesar de já terem decorrido 144 horas, só anteontem os primeiros três navios brasileiros chegaram à região que se supõe ser do sinistro - e que envolve a área oceânica a cerca de de 1100 quilómetros da costa do Nordeste. Enquanto isso, a magistratura francesa abriu uma investigação sobre a possibilidade de homicídio involuntário. Trata-se de um procedimento habitual em casos de elevado número de mortos.
Submarino nuclear em acção
A França vai enviar um submarino nuclear de ataque para a zona de buscas do avião da Air France. "O sistema de detecção do submarino pode ajudar a recuperar as caixas negras", disse o ministro francês da Defesa, Hervé Morin.
Atentado é hipótese?
A presunção de atentado terrorista não está posta de parte, diz o Governo francês. "Não há pistas sobre a hipótese, mas a investigação não exclui a possibilidade".
Muitos meios no ar e no mar
Dez aeronaves (incluindo um Falcon 50, três Hércules C130 e um P3), diversos helicópteros, cinco navios e agora um submarino são os meios envolvidos nas buscas.
Rota Rio-Paris muda de nome
É habitual em contexto de acidentes: o voo AF447 (Rio-Paris, da Air France) vai abandonar a designação. Passa a ser AF445.
O problema da velocidade
Ao atravessar uma zona de grande turbulência, os pilotos de aviões devem centrar toda a sua atenção na velocidade do aparelho, diz a Airbus, que emitiu agora recomendações aos seus clientes. Seguir demasiado depressa coloca em risco a estrutura do avião, que pode rachar; andar com lentidão leva-o a cair no mergulho livre.
Air France muda velocímetros
A Air France está a substituir em todos os aviões Airbus os painéis de medição de velocidade. A informação consta de um memorando enviado ontem aos pilotos.
Nomes brasileiros revelados
O voo AF 447 tinha 216 passageiros de 32 nacionalidades, incluindo sete crianças e um bebé. Segundo a Air France, 61 eram franceses, 58 brasileiros e 26 alemães. Dos 12 tripulantes, 11 eram franceses e um brasileiro. Só os nomes dos brasileiros foram ainda revelados.
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