A emoção contagiou toda a gente, este sábado, no funeral da pequena Maria João, assassinada pelo pai, dias depois de festejar sete anos. Na igreja de Capela, em Penafiel, até o padre que a baptizou não conteve as lágrimas.
Chegam em pequenos grupos ao átrio da igreja da Capela, uma minúscula freguesia de Penafiel, habitada por pouco mais de mil almas. As conversas são silenciosas, contidas. São amigos, familiares, colegas de trabalho da mãe da criança assassinada. Vê-se gente comovida e poucos querem falar do "acto de loucura" cometido por João P., 45 anos, pai da pequena Maria João, de sete anos. Foi na passada quinta-feira, à noite, cerca das 19 horas. O asssassino confesso asfixiou a filha com a ajuda de um cinto do roupão e ontem, aconteceu no apartamento que, até há dois anos, partilhou com a ex-mulher, Maria Rosa, na Rua de Aquilino Ribeiro, em S. Mamede de Infesta, Matosinhos. Depois do crime, João P. preparou o jantar e colocou na mesa um prato para a filha, entretanto, já morta e deitada num sofá. Esteve quatro horas com o corpo da menina dentro de casa e antes de sair, cerca das 23 horas, ligou para o 112 a contar o crime. Acabou por ser detido, ao princípio da manhã de sexta-feira, na marginal do Douro, em Vila Nova de Gaia.
"Parece mentira tudo quanto aconteceu", disse, ontem, um ex-reformado do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) do Porto, organismo onde a mãe da vítima é funcionária. "Era uma criança muito dócil, muito brincalhona", referiu uma familiar carregada de preto e rosas brancas na mão.
Sandra Ferreira, meia-irmã de Maria João, acompanhou dia e noite a mãe da menina morta. Está abatida, ainda assim arranjou forças para tentar reconfortá-la do "bárbaro crime". Chegam mais pessoas ao átrio da igreja de Capela, amigos e funcionários do IEFP, alguns deles vindos de Lisboa e do Porto. As palavras voltam a ceder à emoção e à dor.
"Toda a gente está revoltada. Como foi possível o autor do crime ter a menina morta ao pé dele durante seis horas? Foi bárbaro de mais para ser verdade", considera António Padeiro, primo de Maria Rosa, mãe da menina assassinada. "Ninguém merece um acto tão cruel e atroz. Um crime deste tipo não pode ter qualquer tipo de perdão", advertiu.
Aproximam-se as 10.30 horas e o pároco da freguesia, Marílio da Costa Faria, inicia as exéquias fúnebres e aproveita a homilia para denunciar aquilo que considera ser o "mundo de ódio, vingança e morte" vivido nas sociedades modernas. "Não tem justificação o que aconteceu à Maria João. Eu sei que a dor é muita e a família está a sofrer. Fui eu que baptizei a pequena Maria João", recordou o pároco aos muitos familiares e amigos da menina, sem antes ter deixado uma inquietante pergunta: "Porque foi cometido um acto tão monstro quando devia existir paz, amor e solidariedade?"
Findas as cerimónias na igreja de Capela, a urna branca com o corpo da pequena Maria João foi transportada, em cortejo a pé, até ao pequeno cemitério paroquial onde foi a enterrar, onde também estiveram o delegado do Porto do IEFP e Correia Pinto, vereador da Educação da Câmara de Matosinhos, concelho onde a pequena Maria João viveu e estudou (Escola Básica da Ermida).
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