As carteiras mais vazias obrigam os portugueses a uma maior selecção na altura de fazer compras. Vão mais vezes por semana ao supermercado e optam muito mais pelos produtos mais baratos e mesmo de marca branca.
A ida ao supermercado é cada vez mais um exercício de aritmética, com os consumidores a procurarem os produtos a preços mais baixos sem, no entanto, deixarem de levar os que consideram alimentos básicos, embora o façam cada vez mais de marcas brancas, ou marcas próprias de determinado grupo.
É o que se verifica, por exemplo, com o leite e seus derivados, que, como diz a Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL), os consumos, no global, não registaram grandes oscilações, mas as "quotas de mercado das marcas brancas aumentaram na ordem dos 6 a 7% em 2008", afirmou Pedro Pimentel.
O responsável acrescentou ainda que, nos últimos anos, "verificou-se um aumento massivo de consumo de leite e derivados e, nos dois últimos anos, por exemplo, no que diz respeito ao leite, o crescimento tem sido praticamente nulo". Já o queijo teve um decréscimo de 5% e o consumo de iogurtes na ordem dos 1%. No entanto, "são consumos globais, optando pelo produto mais básico sem valor acrescentado e, muita vezes, no caso das marcas brancas, desconhecendo a sua origem, que muitas vezes é estrangeira".
Se para os lacticínios a escolha recai nos produtos sem marca, no caso do peixe a opção é cada vez mais pelas espécies capturadas na costa portuguesa. "O carapau, a cavala, a sarda e a sardinha estão a recuperar os consumos tradicionais", referiu Miguel Cunha, da Associação de Armadores das Pescas Industriais, admitindo que "esta procura é também motivada pelos preços. Estas espécies são mais baratas, mas as espécies mais caras, como o pargo, o sável e o robalo, mantêm os mesmos níveis de procura".
Nas bancas ficam as carnes de bovino e suíno, que desde o ano passado têm registado uma descida na procura. José Oliveira, da Associação de Produtores de Leite e Carne, admite que os preços "da carne bovina não são convidativos, mas por puro contra-senso, porque os preços ao produtor desceram 35%, no entanto, para o consumidor mantiveram-se. Com os custos de produção a aumentar não só os consumidores deixam de procurar este produto, como muitos produtores desistem desta actividade".
A mesma queixa é apresentada pelo presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, Joaquim Dias, que aponta para uma verdadeira retracção no consumo de carne de porco. "Estatísticas só europeias, e em 2008, o decréscimo de consumo foi de 1% per capita".
A carne de aves é assim a mais procurada pelos consumidores portugueses, e "o preço é um dos motivos, porque foi sempre muito mais acessível", frisou Avelino Gaspar, da Federação Portuguesa das Associações Avícolas, acrescentando que o mercado de ovos também está estável.
Pão e fruta
O pão continua a ser um alimento muito procurado em tempo de crise, "até se verificou um aumento no consumo este ano, mas cerca de 30% dessas vendas são feitas nas grandes superfícies", salientou Carlos dos Santos, da Associação do Comércio e Indústria de Panificação.
A fruta continua a ser procurada, "existe algum decréscimo, especialmente, na fruta certificada, que é mais cara, mas não é muito grande", avançou Sónia Varanda, da Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Hortofrutículas, sublinhando que "se trata apenas de sensibilidade, dados só no final da campanha".
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