O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência diz-se "muito satisfeito". Não só com o facto de haver um relatório a louvar a experiência portuguesa, como com a visibilidade que deu à realidade portuguesa.
"Já dei uma entrevista à "Time Magazine" e fui contactado pela BBC, que quer vir cá ver como funciona o sistema". João Goulão acredita no consenso político em torno da descriminalização, apesar da voz que "apela ao endurecimento que volta e meia aparece"...
Partindo da recensão de Glenn Greenwald, que conclusões tira da descriminalização do consumo de droga em Portugal?
O fundamental é que permitiu uma maior aproximação a franjas que anteriormente não pediam ajuda. E o dispositivo de dissuasão montado - importa insistir que o consumo continua a ser proibido - funciona cada vez mais com segunda linha de prevenção. O nosso desejo é que nem cheguem a contactar com a droga, mas, se acontece, a intervenção pode fazer arrepiar tendências.
Destacaria algum indicador?
A diminuição da prevalência de consumo nas camadas mais jovens. Todos os estudos demonstram que Portugal é dos países da Europa com menor prevalência nos consumo de droga, tabaco e álcool, apesar da tendência de subida no álcool. Nas outras, a tendência é de descida.
Mas os estudos e o próprio Greenwald apontam mais uso de droga além dos 19 anos...
Estamos a assistir a um efeito de corte. Isto é: estamos a acompanhar as mesmas pessoas. Houve pico de consumo entre adolescentes que agora estão nas faixas etárias seguintes. Os consumidores estão mais velhos, não estão a consumir mais. Isto apesar de alguns iniciarem de facto o consumo quando são mais velhos.
Nota-se claramente o aumento dos tratamentos por força do reencaminhamento pelas comissões de dissuasão (CDT)?
Depois de uns anos em que as várias CDT não tinham quórum - havia hesitações políticas quanto ao seu interesse -, todas as 20 estão agora a funcionar. Há mais tratamento. Mas é um esforço concertado das CDT e da actividade de proximidade, das equipas de rua que chegam às pessoas que não vinham espontaneamente.
Os consumidores estão mais velhos, não a consumir mais. Estivemos na berra aquando da descriminalização, fomos muito solicitados na Europa para explicar. Mas aí, apesar de se manter a criminalização, na prática deixa-se cair a repressão policial. Entretanto, já recebi representantes dos EUA, da Rússia, de vários países sul-americanos, da Argélia...
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