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Radio Viseu Cidade Viriato

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aonde estavam os representantes da Embaixada Portuguesa.


Poucos dias depois do sismo registado na região de Abruzzo, em Itália, Marta Bento, estudante vouzelense que se encontrava na cidade de Aquila (uma das mais atingidas) no âmbito do Programa Erasmus, chora quando vê na televisão as imagens da destruição. Marta contou como sobreviveu à catástrofe e conseguiu chegar até à família do namorado na Holanda


Marta Bento, estudante do curso de Farmácia do Instituto Politécnico da Guarda e natural de Vouzela, chegou a Aquila, pequena cidade no centro de Itália, em finais de Fevereiro, no âmbito do programa Erasmus. Estudar e conhecer um país diferente eram os objectivos, mas apenas os primeiros quinze dias foram tranquilos.


"A partir do início da segunda quinzena de Março começámos a sentir pequenos abalos. Por vezes, estava na cama e sentia as coisas a tremer. Nós (várias estudantes da Turquia, Roménia e Portugal) ficámos com receio, mas a nossa senhoria explicou que aquilo era habitual e que não havia razão para sentir medo", contou a jovem, de 21 anos.
Na passada segunda-feira, Marta Bento estava a dormir quando às 3h30m todo o quarto começou a abanar. "Parecia que a casa estava a ser atingida por enormes trovões. Não saí da cama durante o sismo que durou vários segundos. Fiquei paralisada e só tinha um pensamento na mente: Vais morrer aqui debaixo dos escombros", recordou.


Pânico


"Demorei algum tempo a recompor-me. Levantei-me da cama, embrulhei-me no edredão e dirigi-me à porta, mas não a consegui abrir. Entrei em pânico e não percebi que a tinha trancado antes de me deitar. Depois do susto, abri a porta e deparei-me com três colegas minhas no corredor. A Liliana (do mesmo curso) ainda estava na cama. Não se mexia e dizia apenas que ia morrer. Consegui que ela saísse do quarto e todas descemos as escadas desde o segundo andar até ao rés-do-chão, saindo para a rua", explicou.


No exterior, Marta Bento apercebeu-se dos estragos provocados pelo sismo. "À nossa volta, os edifícios iam-se desmoronando. Na estrada havia enormes fendas e buracos. As pessoas choravam, mas quase que não se ouviam devido ao barulho das sirenes da protecção civil, da polícia e dos bombeiros, que estavam a tocar por todo o lado. Eu estava no meio daquilo tudo com as minhas colegas e parecia sufocar. Cheia de medo, não sabia para onde ir e juntei-me às outras pessoas que iam saindo das casas. Os nossos vizinhos tentavam salvar os carros que tinham nas garagens, retirando-os para a rua", referiu a estudante.
Foi dentro de uma dessas viaturas que Marta e a colega Liliana tentaram descansar algumas horas. "Durante grande parte do dia, não sabíamos o que fazer. Não nos deixavam entrar na casa, devido ao perigo de derrocada, mas a meio da manhã subi para ir buscar as minhas coisas. Estava na cozinha quando houve uma réplica forte. Os copos e pratos caíram dos armários e cheguei a ser atingida por alguns objectos", contou. A estudante conseguiu apenas recuperar o telemóvel, antes de voltar a fugir para o exterior.


"Aterrorizada, agarrei-me a eles e disse-lhes que
não queria morrer ali"


Por volta das 18 horas chegaram a Aquila vários representantes da Embaixada da Turquia que tomaram conta das estudantes daquele país. "A chorar, pedi-lhes para também me levarem a mim e à Liliana. Inicialmente não quiseram porque não éramos cidadãs turcas. Mas, aterrorizada, agarrei-
-me a eles e disse-lhes que não queria morrer ali e acabaram por ceder. Apesar do medo voltei à casa e fui buscar o computador portátil, a minha roupa e os documentos, antes de entrar para um autocarro que nos ia levar para Roma", recordou.


Namorado comprou bilhete


Sem dinheiro, Marta Bento aproveitou a chegada à capital italiana para telefonar e pedir ajuda ao namorado holandês, que, perante a impossibilidade de adquirir um bilhete de avião para a Holanda, comprou uma passagem para a Alemanha, onde a foi buscar de carro, tal como a mãe da estudante tinha explicado. "Tentei ligar para a Embaixada portuguesa, mas não consegui. Quando ligaram de volta, já tinha o bilhete. Se estou viva é graças à Embaixada turca. Estou muito desiludida com os responsáveis portugueses", sublinhou.


Quanto aos próximos dias, Marta Bento vai aproveitar para descansar, regressando apenas depois da Páscoa a Portugal. Sei que os meus pais têm muitas saudades minhas. A minha mãe liga-me todos os dias a chorar, mas ainda estou demasiado traumatizada. Quando fecho os olhos, ainda vejo o quarto escuro todo a abanar. Estava à espera que a morte me levasse", finalizou, ainda sobressaltada com toda a situação, mas feliz por estar viva e poder contar a história.

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