Projecto "Limpar Portugal" mobiliza mais de 100 mil pessoas em todo o país |
No início, era "um grão". Agora deverão ser mais de 100 mil cidadãos. Armados de luvas, ancinhos, pás e retroescavadoras, vão "limpar Portugal". De vez? Para já, querem remover mais de 13 mil lixeiras, muitas delas com anos. O civismo e as autoridades que cuidem do futuro.
"Era só um grão de areia e, de repente, ganhou esta dimensão!". Albertina acompanha o marido em mais um azafamado intervalo para almoço nos empregos. O "todo-o-terreno" está pejado de "big-bags", não cessam as tarefas de organização da operação "Limpar Portugal". Em todo o país, milhares de activistas ultimam preparativos, certificam-se de apoios - milhares de entidades públicas e privadas cedem meios (luvas, máscaras, ferramentas, máquinas, viaturas, pessoal), imprimem cartazes e folhetos, fornecem refeições…
Mais de 100 mil voluntários estarão a remover lixeiras em matas, na berma das estradas, em becos, pelos montes, até nas praias. "Só a Autoridade Nacional de Protecção Civil vai ter 40 mil pessoas, o Exército colabora nos concelhos onde tem unidades, há escuteiros, juntas de freguesia, câmaras, associações, empresas…". Nuno Mendes, 38 anos, técnico de logística numa empresa de telecomunicações nem sonhava esta dimensão para a ideia que lançou, em Julho, na rede social do clube todo-o-terreno de que faz parte.
Mal recebeu um "mail" com um vídeo da operação "Limpar a Estónia", colocou-o na rede do clube LandMania. Perguntou, no "assunto": "Para quando em Portugal?". Rui Marinho, presidente, reagiu: "É para já!". Paulo Torres, outro membro do clube, com quatro mil aficionados, juntou a ideia de uma rede social. "Quem anda de 4x4, ou de BTT, ou a pé pelos montes apercebe-se muito das lixeiras que existem", conta Nuno Mendes. Nem é preciso sair de junto da porta. A lixeira onde o fotografámos está a 500 metros do seu local de trabalho, em Vila Nova de Famalicão, descaradamente à vista, na berma da estrada.
No concelho, há mais de 340 recenseadas pelos voluntários. É o quarto no "top-ten" nacional das lixeiras referenciadas (infografia). À frente, está Leiria, com cerca de 400. "Essas são as que os voluntários recensearam, mas muitas já não entraram por falta de tempo, mas as juntas de freguesia sabem onde estão", diz Filipe Mateus, projectista, 37 anos, coordenador concelhio.
Acontecem "por falta de civismo, embora também haja negligência das entidades. Este projecto serve para alertar as pessoas e as entidades", diz, para reconhecer que as autarquias têm falta de meios. "O nosso puxão de orelhas vai para a falta de civismo das pessoas. Fazem cinco ou mais quilómetros para deitar fora um frigorífico no monte quando podem usar os serviços das câmaras ou locais próprios (ecocentros) perto de casa", diz Paulo Torres.
"Estamos a dar o exemplo e a alertar as autoridades e população", diz Nuno Mendes. "O número de voluntários significa que as pessoas ganham consciência", nota a mulher. Os inscritos via rede social ultrapassam os 45 mil, sem contar os que surgem nas juntas, paróquias, escolas, cafés. São a "mão-de-obra gratuita" que as autarquias vão ter hoje. Ainda por cima, o lixo recolhido está hoje dispensado de taxas de aterros e centros de tratamento, segundo uma portaria especial do Ministério do Ambiente, que apoia a iniciativa, que tem o patrocínio do presidente da República.
Jornal de Noticias
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