Os resultados do estudo surpreenderam até o responsável pelo documento: a percentagem coloca Portugal no topo dos países europeus e próximo dos Estados Unidos
Quase 23 por cento dos portugueses tiveram uma doença mental nos 12 meses anteriores ao inquérito que deu origem ao primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, apresentado esta terça-feira e cujos resultados surpreenderam o responsável pelo documento.
Um estudo que se insere num consórcio internacional, que inclui a Organização Mundial de Saúde e a Universidade de Harvard, responsável pela realização de inquéritos semelhantes em diversos países, para comparação de resultados e desenvolvimento de um estudo genético internacional.
O responsável pelo estudo, Caldas de Almeida, referiu uma «prevalência altíssima» de quase 43 por cento de portugueses que sofreram de perturbações mentais ao longo da vida.
«Estes dados têm implicações políticas. Têm de ser pensados e aprofundados», afirmou Caldas de Almeida, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, onde decorreu a apresentação do estudo.
Caldas de Almeida, que é também Coordenador Nacional das Doenças Mentais, admitiu que ficou surpreendido com estes resultados. «Estava à espera de uma percentagem alta, mas não de 23 por cento, um valor que coloca Portugal no topo, entre os países europeus e próximo dos Estados Unidos (26,4 por cento)».
Ansiedade e depressão são perturbações mais frequentes
As perturbações psiquiátricas mais frequentes na população portuguesa são a ansiedade (16,5 por cento) e a depressão (7,9), segundo os primeiros resultados do estudo epidemiológico nacional de saúde mental.
Na tabela de perturbações detectadas nos portugueses estão ainda o «controlo impulsivo» (3,5 por cento) e o abuso e dependência de álcool (1,6 por cento).
No subgrupo das ansiedades, a perturbação mais frequente é a fobia específica (8,6 por cento) que, segundo o director da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, na sua «maioria, não é grave».
«Zangas na estrada»
Quanto ao «controlo impulsivo», os maiores números relacionam-se com o «impulso explosivo intermitente» (1,8 por cento), ilustrado pelo especialista com «zangas na estrada».
O inquérito mostrou uma prevalência de 6,3 por cento de doenças psiquiátricas graves em Portugal, enquanto no líder mundial, Estados Unidos, o valor é de 7,7 por cento.
Caldas de Almeida sublinhou que uma «parte significativa» (33,6 por cento) destes casos graves não tiveram qualquer tratamento, e «estes casos precisam provavelmente de cuidados especializados», notou.
Paralelamente, referiu que apenas 35 por cento das depressões só foi tratada no ano em que se iniciaram as queixas e que a mediana mostra cinco anos entre as primeiras queixas e o tratamento. No caso das perturbações de pânico, essa mediana é de dois anos e só cerca de metade teve contacto com serviços clínicos.
«Pode ser porque as pessoas não vão ao médico por causa do estigma e da vergonha da doença», avançou Caldas de Almeida. Ao longo de toda a vida, há uma «prevalência altíssima» de 42,7 por cento de perturbações mentais.
Mulheres mais ansiosas, homens mais suicidas
Sem surpresas e em linha com outras investigações, os factores mais associados a doenças mentais são: o sexo feminino, o grupo etário entre os 18 e os 24 anos, o estado civil divorciado/viúvo ou separado e o nível baixo/médio de literacia.
O estudo teve uma amostra total de 3849 indivíduos adultos de 258 localidades, tendo os inquéritos sido realizados por 150 entrevistadores, que chegaram a ter inquéritos com uma duração de quatro horas.
Espera-se para «breve» o relatório nacional que, segundo a Alta Comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado, pode ajudar a melhorar a actuação das autoridades. A responsável repetiu o alerta para se «desenvolverem estratégias diferentes» em função do género: «as mulheres são mais susceptíveis de serem ansiosas, mas os homens lideram as taxas de suicídio».TVi24
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