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Radio Viseu Cidade Viriato
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Todos defendem o "Saddam das Beiras" ...
O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, mostrou-se ontem arrependido por ter usado a expressão "arranjem lá um grupo e corram-nos à pedrada", para criticar o alegado excesso de zelo dos vigilantes da natureza, depois de a Junta de Silgueiros ter sido multada pelos Serviços do Ambiente
O autarca viseense começou ontem a ser ouvido no Tribunal de Viseu, onde está a ser julgado por instigação pública à violência. Pela primeira vez sentado no banco dos réus, Fernando Ruas, admitiu perante o procurador do Ministério Público, Vítor Pinto, que teria utilizado outra expressão se soubesse que as suas palavras - usadas durante a Assembleia Municipal de 26 de Junho de 2006 - iam ter o impacto que acabaram por ter.
O edil garantiu que falou em sentido figurado e que nunca foi sua intenção incentivar fosse quem fosse a agir contra os fiscais, explicando que reagiu num momento acalorado de discussão a um tema que já tinha antecedentes - outros presidentes de junta já se tinham queixado do trabalho dos vigilantes noutras reuniões.
Referiu ainda que se o seu objectivo tivesse sido incitar alguém à violência tinha outros meios e locais para o fazer.
"Saddam das Beiras"
Fernando Ruas disse ainda que poderia ter usado outras expressões, menos excessivas, lembrando frases do antigo ministro socialista Jorge Coelho - "quem se mete com o PS leva" - e, mais recentemente, do actual ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva que, numa entrevista, disse que gostava "de malhar na oposição" e que não chegaram a ser processados. "Parece que essas palavras não foram consideradas graves", sublinhou.
Recordou também que já foi alvo de alguns excessos, recordando um artigo jornalístico em que foi apelidado de "Saddam das Beiras".
O autarca admitiu ainda que toda a situação gerada à volta das "pedradas" criou uma situação desagradável que até podia ter evitado ao fazer uma doação para a organização ambientalista Quercus e com uma explicação pública, como lhe foi proposto pelo Ministério Público. No entanto, "isso seria admitir uma culpa que eu acho que não tenho", argumentou.
Assunto "morreu" na Assembleia Municipal
Com o objectivo de mostrar que as suas declarações não foram consideradas polémicas por quem as ouviu na Assembleia Municipal, Fernando Ruas sublinhou que explicou, imediatamente depois de ter proferido a frase polémica, que tinha falado em sentido figurado, após de ter sido chamado à atenção pelo deputado do PS Ribeiro de Carvalho para o "excesso de linguagem".
Esclareceu ainda que no final da reunião da Assembleia Municipal, momento em que habitualmente abordado pelos jornalistas para comentar os assuntos mais importantes, ninguém o abordou por causa das "pedradas". "O assunto nem foi publicado pela comunicação social no dia seguinte. Surgiu mais tarde", frisou.
Durante a manhã de ontem foram ouvidas várias testemunhas, entre as quais as duas arroladas pela acusação, o autarca de Silgueiros, António Coelho (cujo lamento na Assembleia Municipal esteve na origem da expressão do presidente da Câmara), e o deputado municipal do PS, Ribeiro de Carvalho.
Testemunha da acusação
defendeu Fernando Ruas
O presidente da Junta de Freguesia de Silgueiros mostrou-se surpreendido por nunca ter sido ouvido pelo Ministério Público antes de entrar ontem na sala de audiências e acabou por defender Fernando Ruas, assegurando que é habitual o presidente da Câmara usar uma linguagem que pode ser mal entendida, dando o exemplo da reunião da Assembleia Municipal de Junho de 2006.
Com recurso à acta, explicou que o edil utilizou por 11 vezes a ironia, recorrendo por 18 vezes a frases feitas e provérbios.
Por sua vez, Ribeiro de Carvalho admitiu ter chamado, na altura, a atenção do autarca para as palavras que este tinha acabado de utilizar. Questionado pelo Procurador, disse que interviu por achar que se estava perante um "excesso de linguagem", mas "confessou" que estes são habituais nas discussões mais acesas das Assembleias Municipais.
O presidente da Câmara de Faro, José Apolinário e o colega de Rio Maior, Silvino Sequeira (ambos do PS), também foram ouvidos, tal como o secretário-geral da Associação Nacional de Municípios, Artur Trindade. Todos atestaram que Fernando Ruas é incapaz de incitar alguém à violência.
À tarde, o tribunal ouviu diversos presidentes de junta de freguesia do concelho, entre os quais dois do PS, e todos adiantaram ter entendido as palavras do edil como um desabafo e não como um incitamento à violência.
Luís Carlos Pimentel, que à data dos acontecimentos coordenava os serviços dos vigilantes da natureza, assegurou que ninguém da sua equipa ficou preocupado depois de terem sido conhecidas as palavras de Fernando Ruas, garantindo que continuaram a trabalhar normalmente e sem receio de ataques.
Vice-presidente utilizaria
as mesmas palavras
O vice-presidente da Câmara de Viseu, Américo Nunes, foi a última testemunha a ser questionada e admitiu que poderia ter usado as mesmas palavras que o presidente, recordando que as Assembleias Municipais podem ser bastante tensas.
O julgamento continua no próximo dia 21, pelas 9h30m, estando prevista a realização das alegações finais.
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