A Polícia Judiciária (PJ) prendeu dois indivíduos que terão mantido em cativeiro, durante 14 meses, duas pessoas num compartimento sem janelas, trancadas com correntes e cadeados e num cenário de «profunda e chocante miséria humana». As vítimas foram segunda-feira libertadas.
A operação foi levada a cabo pela PJ, através da Unidade Nacional de Contra Terrorismo (UNCT) na segunda-feira, na zona de Coruche. Os indivíduos são suspeitos da prática de crimes de rapto, extorsão e violência doméstica.
De acordo com um comunicado divulgado pela Judiciária, os suspeitos haviam tomado a residência das vítimas, uma idosa e o seu filho portador de deficiência profunda, desde Julho de 2008. O objectivo dos detidos era extorquir mensalmente a reforma e a pensão de invalidez das vítimas.
Os indivíduos mantinham a idosa e o filho em cativeiro. A Judiciária avança que as vítimas tinham que fazer as necessidades fisiológicas no chão ou em baldes e descreveu o cenário encontrado como uma «profunda e chocante miséria humana».
Os suspeitos terão submetido as vítimas a constantes maus-tratos físicos e psíquicos e mantinham a idosa e o filho num «estado de carência absoluta de cuidados higiénicos ou médicos» e em «profunda subnutrição».
Os detidos vão ser apresentados esta terça-feira à tarde perante a Autoridade Judicial competente para aplicação da respectiva medida de coacção.
De acordo com a agência Lusa, que cita fonte policial, as duas pessoas detidas por manterem a idosa e o seu filho em cativeiro são «familiares muito próximos» das vítimas, sendo um deles filho da idosa.
Os habitantes da pequena aldeia de Fajarda de Cima, concelho de Coruche, estão surpreendidos com o sequestro mas remetem-se ao silêncio.
O sequestro ocorreu numa casa perto da escola primária da aldeia, de difícil acesso, mas escapou à atenção dos habitantes de Fajarda de Cima.
No café Central, os presentes evitaram responder às perguntas, mas alguns adiantaram que «nunca lhes passou pela cabeça» uma situação como a que a Polícia Judiciária desmascarou.
Judite, irmã de um dos dois suspeitos detidos pela PJ, afirmou que «frequentava regularmente» a casa em questão mas que nunca dera por nada de anormal na habitação.
O ministro da Justiça regozijou-se com a forma como as autoridades policiais intervieram «com êxito» em Coruche, pondo termo ao sequestro, extorsão e violência doméstica.
Confrontado com a questão da violência doméstica, o ministro da Justiça sublinhou que a lei em vigor prevê a detenção e a prisão preventiva para este tipo de crime, vincando ser «errada» a ideia de que a prisão preventiva não é aplicada à violência doméstica.
«Isso é um erro. Temos nas nossas prisões mais de uma dezena de presos preventivos por violência doméstica», assegurou Alberto Costa.
Questionado sobre o longo cativeiro de 14 meses a que as vítimas estiveram sujeitas, o ministro lembrou que em todo o mundo situações desta natureza levam, por vezes, anos a serem «detectadas» pelas autoridades.
«Infelizmente, não é diferente em Portugal», conclui.
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