Marcas do "grande salto" conservam-se no Mar daTranquilidade. Satélite será entreposto para Marte. Países correm para o espaço, entre a cooperação e o despique.
Há 40 anos certos, o ser humano pôs os pés na Lua. Quase 500 milhões viram da Terra o saltitar leve de Armstrong e as marcas das suas botas de astronauta. O sonho de lá voltar e ir mais além está a ficar cada vez mais nítido.
Mesmo numa época em que ter aparelho de televisão era ainda privilégio no país, cerca de dois milhões de portugueses terão assistido à emissão feita pela RTP. José Mensurado, figura habitual nos telejornais da estação, assegurou 18 horas ininterruptas de comentários e descrições a partir do estúdio B, no Lumiar. "O Eagle alunou", disse, a dado momento, improvisando um verbo que lhe pareceu fazer sentido.
Quando Neil Armstrong anunciou "Eagle has landed", José Mensurado achou a tradução literal desadequada, pois o módulo não podia "aterrar" fora do nosso planeta. "Alunar", isso sim. E o termo ficou.
Protagonista da primeira transmissão televisiva intercontinental para o país, José Mensurado constatou, nos tempos seguintes, pelas abordagens que lhe faziam na rua, que "por cá, metade das pessoas não acreditava na ida do Homem à Lua".
A "ultima fronteira" para a exploração do Espaço situa-se hoje cada vez mais longe da Terra, com as ambições científicas, políticas e económicas a expandirem-se também. Mas o dia 20 de Julho de 1969 continua a ser o marco referencial para a aventura fora do nosso planeta. O protagonista de maior visibilidade foi Neil Armstrong, visto em directo por centenas de milhões de pessoas, ao longo de horas especadas frente aos televisores, que debitavam uma emissão com interferências, esperas e vozes ecoadas a partir do centro de controlo da NASA. "Lá em cima" estava uma equipa de três astronautas. Um deles desceu por uma escada do pequeno módulo Eagle e atreveu-se aos primeiros passos nessa zona baptizada como Mar da Tranquilidade: do gesto resultaram saltos facílimos, por ausência de gravidade.
Para a História ficaram as palavras de Neil Armstrong: "Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a Humanidade" . Os companheiros desta missão Apollo 11, propulsionada pelo foguetão Saturno V, eram Edwin "Buzz" Aldrin e Michael Collins. A este coube a tarefa de entretanto orbitar a Lua, não tendo descido da nave. Os outros dois recolheram material para análise posterior e implantaram a bandeira dos EUA (que terá sido feita por uma emigrante portuguesa e lá continuará sem brisas que a perturbem, pois não há uma atmosfera). A sua permanência em solo lunar foi de duas horas e meia. Neil Armstrong diria depois que "não havia muito tempo para disfrutar do momento, já que havia tanta coisa para fazer".
Até hoje, foram 12 os homens, todos norte-americanos e ao serviço da NASA, que desceram até à superfície do nosso satélite natural. O último foi Eugene Cernan, em 1972. Pelo meio, figuram nomes como Alan Bean, Edgar Mitchell, Charlie Duke, John Young ou Alan Shepard. Alguns outros astronautas, como Frank Borman e Donald Evans, participaram em missões Apollo, mas apenas orbitaram a Lua.
O programa incentivado por John Kennedy como um desígnio dos EUA iria definhar em verbas e acumular, em consequência, algumas falhas técnicas. A necessidade de competição com a URSS fora em parte ultrapassada com a ida à Lua concretizada pelo programa norte-americano. Em 1972, com a Apollo 17, terminava este ciclo de conquista do Espaço.
O conhecimento do que se passa além do planeta Terra encontrou outros alvos e instrumentos. Vénus e Marte, bem como alguns cometas e asteróides, têm sido alvos de pesquisas. Marte tornou-se chave para muitas respostas sobre a possibilidade de vida em ambientes extremos. E já revelou indícios de ter água. Além disso, as suas formações podem guardar reservas de metais; alguns, eventualmente, seriam alternativas às actuais fontes de produção energética. Na Lua há a presença de hélio 3 em reservas capazes de também garantir alternativas energéticas.
O sinal de retoma de exploração da Lua pela NASA foi dado por George W. Bush, que fixou em 2020 a meta para o regresso à Lua. A ambição do novo programa espacial não ficou por aí. Bush falou na Lua e "para além dela". O programa Constellation está em marcha, com desenho de naves (Orion) e foguetões (Ares). Em paralelo, houve concurso para novos fatos espaciais para os astronautas, segundo modelos que satisfaçam mais a segurança, autonomia da nave-mãe e mobilidade. De momento, os EUA têm em curso duas missões não tripuladas dirigidas à Lua. Os países europeus, através da ESA, também fitam este alvo, o mesmo acontecendo com a China, a Índia e o Japão. Mais ainda do que os contributos científicos, o custo das missões exigirá maior cooperação internacional.
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