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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Estatística mostra que Portugal regista níveis de crescimento demográfico cada vez menores...


A população residente em Portugal continua a aumentar, mas a um ritmo demasiado brando para evitar que a médio prazo o país fique mais pobre e envelhecido. A crise e o desemprego afectaram o fluxo migratório que antes fazia crescer o Norte.


De acordo com os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao ano de 2008, o aumento da população nacional é cada vez mais reduzido, tendo o país somado pouco mais de nove mil pessoas. O saldo migratório, que até aqui ajudava a equilibrar o défice de fecundidade, sofreu também um revés. Com a actual conjuntura económica, os imigrantes começam a abandonar Portugal. E a taxa de natalidade está muito longe de ser satisfatória.


O Algarve e a Península de Setúbal são as regiões que melhor escapam à estagnação. A Norte, a cidade do Porto, sozinha, perdeu em quatro anos mais população (23.036) enquanto a área metropolitana conseguiu ganhar 12.647 pessoas.


Assim, até ao final do ano passado, Portugal contava menos de 11 milhões de indivíduos, o que corresponde a um crescimento de 0,09% - menos oito pontos percentuais do que em 2007, tendência que se mantém desde 2003.


Especialistas em demografia não ficam surpreendidos com o comportamento demográfico, mas manifestam preocupação relativamente ao futuro. "Será cada vez mais difícil falar de recuperação demográfica", avisa Dulce Pimentel, geógrafa das populações e docente da Universidade Nova de Lisboa. "A taxa de crescimento natural, mesmo sendo positiva, é muito baixa. Não é com esse valor (314 é o saldo da diferença entre mortalidade e natalidade) que a população vai renovar-se", sublinha a investigadora. Além disso, "com o desemprego a aumentar, os imigrantes a saírem do país e as mulheres a engravidarem cada vez mais tarde - reduzindo a possibilidade de um segundo filho -, só resta saber se já chegámos ao fundo ou se ainda é possível piorar". Esta tendência é idêntica na Europa toda. A única diferença em Portugal "é que a mudança aconteceu toda em 40 anos, com forte envelhecimento da população".


Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, é ainda mais pessimista. "Estes dados do INE mostram que não só não conseguimos fixar pessoas em idade activa como já não atraímos imigrantes". E alerta para o facto de o saldo migratório (9361), muito baixo, compreender uma fatia de emigrantes: portugueses que regressam a casa em idade de reforma e que, por isso, vêm acentuar a curva de envelhecimento do país.


O crescimento de população em idade activa será praticamente impossível nas próximas duas décadas. "Houve um declínio da natalidade e isso é irreversível. Mesmo que agora houvesse um boom de fecundidade, só iria ter reflexos daqui a 20 anos." A outra variável que poderia influenciar positivamente a demografia é a imigração. "Mas isso só poderá acontecer quando houver um reequilíbrio financeiro, que ninguém sabe quando acontecerá". Aliás, sublinha, "é justamente o fluxo migratório que sempre serviu de balão de ar ao Norte que agora, devido ao desemprego, alterou a evoluçaõ do seu crescimento".


Crise e demografia são indissociáveis. "A demografia tem consequências na produção de riqueza. Se a crise não estancar, não teremos pessoas em idade para criar. Não sei que país poderemos esperar", conclui Dulce Pimentel.


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