Bermeja é nome de mistério. Durante séculos, a palavra apareceu escrita nos mapas e cartas de navegação do golfo do México junto a uma ilha pequena, estreita e comprida, ao largo de Yucatán. Mas desde há 12 anos ninguém a consegue encontrar.
Uma expedição científica da Universidade Nacional Autónoma do México passou semanas a vasculhar o mar onde, no início do século XVI, foi avistado um rochedo cor de fogo, ao qual puseram o nome de Vermeja (Vermelha).
Os técnicos mexicanos usaram aviões e navios com sondas para fotografar o fundo do mar a uma profundidade de mais de 1500 metros, mas o seu veredicto foi inquietante: não há nenhuma ilha ou vestígios dela nos 223 quilómetros quadrados da área analisada. E não parece ter existido alguma nos últimos de cinco mil e trezentos anos.
O mistério, por si, bastaria para fazer crescer a curiosidade. Mas, para o Governo mexicano, aquela ilha desaparecida tem um valor mais palpável. Bermeja permitiria ao México reclamar a soberania sobre mais 30 milhas (55 quilómetros) de mar e ficar, quase em exclusivo, com os direitos de exploração dos Hoyos de Dona, uma das reservas de petróleo mais importantes do mundo.
Em Junho de 2000, México e EUA assinaram um tratado em que se comprometiam a manter fechada a torneira do ouro negro naquela zona que é alvo de diferendo entre os dois países. Mas essa moratória termina em 2010. Sem a ilha Bermeja, o último posto de fronteira do México são as ilhas de Alacranes, e os Hoyos de Dona, onde estarão 22,5 mil milhões de barris de crude por retirar, ficam sob a bandeira americana.
As teorias da conspiração sobre o desaparecimento da ilha não tardaram a surgir. Há quem diga que os EUA fizeram Bermeja desaparecer da Terra para depois a apagarem do mapa. A seu favor usam o argumento de que a ilha aparece em relatórios da poderosa agência secreta americana (CIA), em pleno século XX.
A expedição científica à ilha desaparecida foi ordenada em Março - 12 anos depois de uma primeira tentativa - pela própria Câmara dos Deputados do México depois de ouvir uma comissão de especialistas dizer que há muitos documentos históricos a provar a sua existência.
Recuando no tempo, Bermeja foi pela primeira vez referida na carta "El Yucatán e islas adyacentes, Islario general de todas las islas del mundo", de Alonso de Santa Cruz, impressa em Madrid, no ano de 1539, quase meio século depois de Cristóvão Colombo ter descoberto a América.
No ano seguinte, Alonso Chaves fez a primeira referência explícita à ilha em Espejo de Navegantes: "Bermeja, ilha ao largo de Yucatán está a 23 graus (de latitute norte). Dista 14 léguas a noroeste do cabo de San Antón e 55 léguas das Alacranes. Dista 118 léguas a nordeste de Villa Rica. É uma ilha pequena que de longe parece vermelha."
Nos séculos seguintes, Bermeja continuou a ser desenhada em mapas franceses, holandeses e ingleses elaborados pelos melhores cartógrafos da época. Mas, a partir de metade de oitocentos, deixam de ser feitas referências directas à sua existência. Curiosamente, foi também nessa altura que se começou a falar na exploração de hidrocarbonetos.
De acordo com o historiador Michel Antochiw Kolpa, em 1844, cartas inglesas falam no afundamento de uma ilha naquela zona. Bermeja teria sido engolida durante um processo geológico que alterou o fundo do mar.
Antes da expedição havia no México quem argumentasse que a ilha foi coberta pelo mar. Não como na célebre história ou mito da Atlântida, arrasada por uma onda gigante, mas pela subida do nível das águas causada pelo aquecimento do planeta.
No entanto, a explicação mais verosímil, segundo os técnicos da Universidade Nacional Autónoma do México, é que a ilha exista realmente, mas as coordenadas 22º 33' de latitude norte e 91º 22' de longitude oeste estejam erradas.
Enquanto dura o mistério, o popular Google Earth mantém sobre o lugar onde deveria estar a ilha um ponto de interrogação e a dúvida: "Ilha perdida?"
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