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Radio Viseu Cidade Viriato

sábado, 13 de junho de 2009

Recordar - Antonio Variacoes....

António Variações morreu há 25 anos
Amélia, irmã de António Variações

Na freguesia de Fiscal, em Amares, Braga, familiares e conhecidos recordam o artista que desde criança mostrou vocação para as canções.


A freguesia de Fiscal, de Amares, tem ainda, 25 anos depois da morte de António Variações, sinais e marcas profundas da estadia do cantor português. Não é só o busto, logo à entrada do centro urbano, nem a campa do cemitério, entretanto mudada do local original, quem sabe para lhe dar a dignidade que merece, mas é o próprio ar povoado de recordações que não deixa as gerações mais novas apagar da sua memória de povo um ícone da cultura portuguesa.


Jaime Ribeiro e Deolinda de Jesus deram ao quinto de dez filhos o nome de António Joaquim. Desde pequeno que António mostrava interesse por outras coisas, como recorda a irmã Amélia: "Cantava no quintal, nos campos enquanto trabalhava, mas depois em público era mais reservado". Visto e revisto em romarias e feiras locais, "onde gostava de se misturar com o povo, beber o tradicional".


Depois em casa, muitas vezes em segredo, criava melodias e letras inspiradas nas suas incursões pelas romarias. Manuel Pinheiro ainda hoje guarda uma imagem de António: "Estávamos numa daquelas tocatas espontâneas quando ele se junta a nós. Com um sorriso, sugeriu que alterássemos uma nota e a forma de cantar uma frase. Aquilo ficou até aos dias de hoje".


Nesta altura, já António tinha ido primeiro para Caldelas, onde experimenta o primeiro ofício, "fazer quinquilharias" e onde viria depois a trabalhar nas Termas; para Lisboa, onde trabalhou num escritório; para Angola, onde fez a tropa sem grandes sobressaltos ("terá sido da vela a Santo António que ele pediu à mãe para acender", recorda Amélia) e para Inglaterra, onde a irmã vivia. "Gostava muito de viajar, de conhecer pessoas e lugares. Lá, trabalhou num colégio porque queria aperfeiçoar a língua e em contacto com gente é que ele dizia que se aprendia".


Amesterdão é o ponto de viragem: aprende a arte de cabeleireiro que lhe iria, depois, em Lisboa dar nome e prestígio. O "Prá Menina e Pró Menino", na Rua de S. José, era local de romaria de gente ilustre de vários quadrantes da sociedade portuguesa. Foi no salão que Júlio Isidro "encontrou" António e o levou pela primeira vez à televisão portuguesa.


"O meu irmão surgiu em Portugal 30 anos mais cedo", diz a irmã. "Por isso, é respeitado por todos". As roupas com cores e formas originais saídas da sua imaginação e confeccionadas por uma amiga costureira, e o seu visual excêntrico, que, dizem, saía das mãos de aprendizes que passavam pelo seu salão, nunca impressionaram o concelho rural de Amares, nos inícios de 1980.


"As pessoas gostavam dele. Mesmo com o seu ar único, ele era simples e gostava muito da mãe e isso conta para estas gentes", recorda Rosa Sousa. "É verdade que, se calhar, nunca mais apareceu aqui ninguém com aquele estilo, mas ainda bem. É sinal que ele era efectivamente especial". Com tantas referências à mãe, era importante perceber o papel de Deolinda de Jesus na vida de Variações.


"Tinha um carinho muito grande e quando cá vinha passava o tempo com ela. Não havia um dia em que não lhe ligasse", recorda Amélia Ribeiro. A irmã ainda hoje fica comovida quando recorda a letra da canção. "Foi a forma que ele encontrou de agradecer à nossa mãe que imaginava uma vida diferente para ele, mas que aceitou o caminho dele. O António sentia-se agradecido por isso".


Joaquim Monteiro funcionava como uma espécie de taxista particular da família. Transportou muitas vezes a mãe Deolinda a Braga. De António, tem apenas uma recordação: "Estava na praça de táxis quando chegou perto de mim e perguntou se o podia levar a Braga. Disse-lhe que sim e lá fomos". Apesar da figura extravagante e "engraçada", Joaquim Monteiro lembra- -se de uma viagem quase em silêncio. "Não era homem de muitas falas, mas quando dizia alguma coisa parecia-me sempre sábio".


Em finais de Março de 1983, diz ao "Sete", "o António Variações gosta de pôr as pessoas a cantar, gostava de não ser só um espectador. E tem vontade de ficar na História, nem que seja na história de uma parede de casa de banho".


Não é na casa de banho, mas numa sala da casa do irmão mais novo que as paredes estão forradas com fotografias e discos de ouro e platina póstumos. Na entrada da Escola Secundária de Amares, um recente painel mostra todos os prismas de Variações. A irmã Amélia não tem dúvida: "O sonho dele era a música".


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