Inflação em queda, desemprego e crise estão a reduzir capacidade negocial dos trabalhadores e na base de actualizações salariais mais fracas.
Os aumentos salariais estão a travar a fundo. Desde o início do ano, a capacidade negocial dos trabalhadores tem sido prejudicada pela crise, pela subida do desemprego e descida da inflação, reflectidos no valor dos salários, a cada mês que passa.
Em Abril, o último mês para o qual existem dados oficiais, o aumento salarial médio acordado entre patrões e sindicatos no âmbito da negociação colectiva foi de 2,3%; tinha sido de 2,4% em Março, já por si abaixo dos 2,7% de Fevereiro. E o ano tinha começado com uma subida média de 3,1%, segundo a compilação feita pela Direcção Geral das Relações de Trabalho (DGERT). É um travão a fundo no valor do acréscimo que cada pessoa abrangida levará para casa ao final do mês.
Desde então, as convenções colectivas já negociadas, mas ainda não publicadas, têm ditado actualizações salariais na casa dos 1,5% a 2%, dizem a CGTP e a UGT. E os valores podem continuar a descer, sobretudo se a inflação continuar negativa, como nos últimos meses, em que muitos preços até têm descido.
A inflação é uma das razões pelas quais associações sindicais e patronais têm negociado actualizações cada vez menores, à medida que o ano avança. Vítor Coelho, dirigente da UGT, lembrou que as negociações têm por base a expectativa de inflação para cada ano e, em 2009, tudo indica que ficará abaixo dos 2,5% inicialmente previstos pelo Governo.
Ficará, portanto, abaixo dos 2,6% registados no ano anterior, o que leva a CGTP, pela voz de Arménio Carlos, a dizer que as negociações devem ajudar os trabalhadores a repor o nível de vida perdido.
O responsável elenca as razões pelas quais os salários deviam subir mais. Nem todas as empresas, diz, estão em crise, mas algumas aproveitam-na para cortar nos salários e nos trabalhadores; por outro lado, no ano passado, uma parte significativa das empresas deu lucro, dinheiro que deve agora usar para cumprir a sua função social; e, por último, aumentar os trabalhadores significa dar-lhes poder de compra e incentivar o consumo, aumentando assim as vendas das empresas nacionais e ajudando a sair da crise.
"Em teoria, o raciocínio faz sentido, e há exemplos concretos para tudo, mas a maioria das empresas está a lutar pela sobrevivência", afirmou José António Silva, presidente da Confederação do Comércio e Serviços. "Claro que gostávamos de aumentar salários para estimular o consumo, mas na generalidade as empresas não podem ir mais longe", garantiu. José António Silva assegura que muitos sindicatos compreendem isso e elogia a atitude "de bom senso" que têm demonstrado nas negociações.
Do outro lado da mesa, onde se sentam os trabalhadores, contudo, a visão nem sempre é partilhada. "As empresas estão mais agressivas do que em anos anteriores, porque alegam que vendem menos. Há até empresas a dizer que os sindicatos deviam era propor formas de baixar os salários, em vez de pedir aumentos", assegurou Vítor Coelho. E, assegura, nem todos os sectores de actividade estão em crise profunda.
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