Pedófilo acusado era monitor na colónia balnear "O Século". Filmou os próprios crimes sexuais.
Uma investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária a um tripulante de ambulâncias suspeito de crimes sexuais foi fundamental para a descoberta de um advogado pedófilo actualmente julgado em Cascais por violação e abuso sexual de menores.No computador pessoal de Hugo A. - denunciado pelas autoridades espanholas como consumidor e difusor de imagens pornográficas infantis - uma fotografia intrigou os investigadores: um indivíduo adulto, vestido com uma camisola do "Super Homem" acompanhado de várias crianças.
O sector de vigilâncias da Polícia Judiciária veio a apurar tratarem-se de meninos desfavorecidos ligados a uma instituição de acolhimento no Porto. E que o misterioso indivíduo era um advogado em Lisboa que o tripulante de ambulâncias conhecera através de sítios da Internet de troca de conteúdos pedófilos.
Entre o causídico de Lisboa e os rapazes do Porto ligava-os os encontros, durante as férias de Verão, na colónia balnear "O Século", em Lisboa.
Embora ainda existissem poucos indícios, o DIAP do Ministério Público do Porto conseguiu do juiz de instrução criminal mandados de busca à casa e ao escritório do advogado, que então trabalhava na construtora Teixeira Duarte. Os inspectores do crime informático da PJ de Lisboa foram sempre acompanhados de juiz - não fosse o suspeito invocar sigilo profissional para impedir apreensão de provas contra o jurista, então com 32 anos e de nome Rui S..
"Namorado" de 10 anos
Estava-se em Setembro de 2008. O suspeito mantinha um relacionamento sexual mais próximo com um menino de 10 anos. E nas buscas seria difícil encontrar provas mais comprometedoras. A começar por quantidades apreciáveis de clorofórmio e por várias filmagens de violações e abusos sexuais de menores. O que mais impressionou os investigadores foi precisamente a relação entre este material. É que, para cometer os crimes, Rui S. esperava que as crianças adormecessem e administrava-lhes aquele produto químico, conhecido pelo seu atributo anestésico e de diminuição de dor.
De seguida, ligava uma câmara e filmava as violações e os seus próprios actos sexuais com os menores. Havia registos, também, de actos de sexo entre os próprios menores. Característica comum às vítimas: eram crianças com idades inferiores a 12 anos.
O advogado ficou imediatamente detido e continuou a surpreender os investigadores. Num segundo interrogatório - e depois de ter confessado tudo -, desatou a chorar quando foi confrontado com uma fotografia de um menino de 10 anos. Para ele, era o "namorado e a criança por quem, naquela altura, nutria mais "amor".
A investigação permitiu depois apurar que, aparentemente, não houve vítimas entre as crianças da instituição do Porto que o acompanhavam na fotografia em que estava vestido com uma camisola do "Super Homem". Daí que o processo tenha passado para o Ministério Público de Lisboa.
Foi dada continuidade à investigação dos abusos contra os menores frequentadores da colónia balnear "O Século" e foram ainda descobertos casos de crimes sexuais também no Colégio Militar, onde o advogado estudou antes de ir para a Faculdade de Direito. Agora, responde no Tribunal de Cascais por crimes de violação (sete), abuso sexual de criança (nove) e 12 de gravações e fotografias ilícitas. Amanhã, há mais uma sessão do julgamento.
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