Puro sangue lusitano Afonso Henriques foi aclamado rei, num concurso de cavalos da última feira da Golegã, em Novembro, mas a vitória vai ser contestada em tribunal, porque o animal não tinha os testículos no sítio certo.
A polémica está ao rubro e há quem brinque que aquela vitória é uma questão patriótica: se o cavalo da Coudelaria Monte Velho com o nome do nosso primeiro rei for desclassificado, o ouro do concurso de "Modelo e Andamentos" será entregue ao segundo classificado, da Coudelaria Veiga, também puro sangue Lusitano mas chamado Almançor - apelido do chefe do exército muçulmano que vergou os cristãos ibéricos em muitas batalhas.
Irónico, também, é que quem acendeu a polémica seja Domingos Figueiredo, filho do Marquês da Graciosa, que recebeu educação monárquica. O que dela retira, para o caso, são princípios que não calam a sua indignação contra o "compadrio" que domina o país e explicará este "escândalo", acusa.
Figueiredo, da Coudelaria Quinta do Figueiral, contestou, junto da Associação da Feira Nacional do Cavalo (AFNC), a admissão de Afonso Henriques a concurso. O regulamento só permitia machos com capacidade reprodutiva, o que não é o caso dos que, como aquele, padecem de criptorquidia, argumentou.
A direcção da AFNC pediu um parecer jurídico, que defende a desclassificação de Afonso Henriques, mas, na sexta-feira, deliberou em sentido contrário, evidenciando a ambiguidade do presidente, Veiga Maltês: "Pessoalmente, o presidente da associação é da opinião de que o poldro deveria ser desclassificado"ressalvando a colegialidade da direcção.
Para Figueiredo, "faltou coragem". "Houve alguma: a associação deu nota negativa ao que se passou, mas não podíamos ter uma atitude mais sangrenta", respondeu Maltês, reconhecendo na contestação uma tentativa de "dignificar o puro sangue lusitano". Figueiredo não se contenta com elogios, e vai avançar com uma acção, no Tribunal da Golegã, para que o ouro seja entregue ao viril Almançor.
A criptorquidia impede a descida dos testículos ao escroto e torna as suas vítimas inférteis. Mas não impediu Afonso Henriques de ir à Golegã alcançar o primeiro lugar, entre os poldros de 3 anos. Segundo o parecer da AFNC, foi desrespeitada a nota do regulamento que exige a "ausência de sinais de doença" que comprometam o acesso ao Livro de Reprodutores. Este é regulado por decreto-lei e implica "idade e capacidade reprodutiva convenientes", o que depende da "integridade morfofuncional dos órgãos genitais", frisa o parecer.
Segundo Maltês, os veterinários que admitiram Afonso Henriques "cingiram-se às indicações do presidente do júri", Filipe Figueiredo, que considera que a reclamação, do seu irmão, "não tem qualquer fundamento". "A descida dos testículos deve ser exigida unicamente na classe de garanhões", argumentou, na tese acolhida pela AFNC.
Já o dono do equino, Lima Mayer, disse que a Associação do Cavalo Puro Sangue Lusitano recebeu um parecer veterinário que conclui que a criptorquidia é curável até aos 4 anos. Afonso Henriques não se curou e já foi castrado. Lima Mayer afirma também que "nem estava presente" no exame de admissão do seu cavalo. "Se há compadrio, não é comigo". Rejeita ainda a crítica que lhe dirige a AFNC quando diz que ele deveria ter equacionado, "de forma cuidada e sensata", a participação do animal no concurso, pois ela "veio a provocar um grande impacto negativo, a nível nacional e internacional, com consequências indesejáveis" na imagem da feira e da raça lusitana.
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