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quarta-feira, 18 de março de 2009

Serra da Lapa

A Serra da Lapa é uma serra portuguesa que abrange parte dos concelhos de Sernancelhe e Satao, do distrito de Viseu. O seu ponto mais alto está situado na freguesia de Quintela, no concelho de Sernancelhe e tem 955 metros de altura. É nesta serra que nasce o Rio Vouga.


Senhora da Lapa, Sernancelhe

O SANTUÁRIO DO CROCODILO

(Texto: Suzana Faro e Joel Cleto)

Que faz um crocodilo pendurado no tecto da sacristia de um dos mais concorridos e famosos santuários da Beira? E, já agora, que faz uma gruta no interior dessa mesma capela? Ou, melhor, porque foi construído este templo de forma a envolver tal cavidade aberta entre as penedias da serra? Interrogações que nos levam, em mais uma “Viagem no Tempo”, até à Serra da Lapa, nos concelhos de Aguiar da Beira e Sernancelhe.

Imponente e simultaneamente inóspita. Mas também, e por estas mesmas características, um irresistível cenário motivador para um profundo reencontro com si próprio, especialmente se o viajante é proveniente de uma dessas cidades em que o stress nos abafa diariamente. Eis as sensações que, no final deste século XX, nos deixa uma incursão à Serra da Lapa.

A forte e, por vezes, inesperada presença dos elementos naturais nestas serranias entre Aguiar da Beira, Sernancelhe e Moimenta da Beira, onde além da Lapa se salienta também a Serra de Leomil, levaram mesmo Sant’Anna Dionísio a escrever, embora com algum exagero, “convém levar carabina ou guia. Na serra há lobos e de respeito”.

Não obstante esta faceta aparentemente pouco convidativa, a verdade é que a serra da Lapa guarda imensos vestígios arqueológicos que atestam de uma relação do Homem com este espaço desde há vários milhares de anos. E mesmo no alto da serra, bem localizado no planalto que aí se estende e no qual nascem as primeiras águas que farão crescer o rio Vouga, encontrará o leitor, no lugar de Quintela, o santuário da Senhora da Lapa – o local de maior romagem e devoção no centro das Beiras. Como aí foi parar, e desde quando, são perguntas às quais não vamos responder de uma forma definitiva. Mas sempre lhe podemos dizer que o culto a esta imagem está registado pelo menos desde 1498 e anda associado a um “Colégio” dos Jesuítas que aí se instalou e que tomou “posse” da igreja de Quintela em 1575. O imponente edifício que albergava os referidos clérigos, mas também os romeiros e peregrinos, objecto de profunda intervenção no século XIX e situado mesmo ao lado da capela da Senhora da Lapa, ainda existe e é uma das marcas na paisagem local.

Quanto à origem da imagem, e à falta de documentação histórica, deixamos o leitor com a lenda. E, segundo esta, os padres jesuítas terão mandado edificar a capela sobre uma pequena gruta, formada entre os penedos aí existentes, onde aparecera a Virgem. A narrativa popular não é, obviamente, tão ligeira. Com efeito esta aparição está repleta de acontecimentos milagrosos, em parte semelhantes a outras lendas existentes no país, mas com um paralelismo muito próximo à do Senhor de Matosinhos. Assim, com o objectivo de salvaguardar uma imagem da Virgem das invasões mouras, alguém a terá escondido naquela gruta onde, afinal, acabaria por ficar até ser descoberta por uma pastorinha muda, cerca de quinhentos anos depois. Confundindo-a com um qualquer brinquedo da miúda, e irritada pelo apego que a criança votava à escultura, a mãe da pequena muda ensaia atirar a Imagem ao fogo. É impedida contudo, no último momento, pela filha que começa milagrosamente a falar. Os milagres, de resto, multiplicar-se-iam e nascia assim a devoção à Senhora da Lapa que, entretanto, foi recolocada na gruta onde surgira.

A popularidade da Imagem transformou o seu santuário, isolado na imensidão da Serra da Lapa, no mais concorrido das Beiras. E a afluência e devoção popular era tão grande que o próprio rei D. João V acaba por elevar o lugar à categoria de vila e sede de condado. A expulsão dos Jesuítas, em 1759, irá contudo provocar alguma decadência na importância administrativa e política da Lapa. Mas não o seu impacto religioso e devocional. Os romeiros, peregrinos e devotos aí continuaram, até hoje, a acorrer em grande número, especialmente no dia da sua romaria, a 15 de Agosto. A aglomeração de pessoas é tanta nesse dia e o espaço no interior da igreja é tão pequeno, nomeadamente no interior da gruta e nos estreitos caminhos entre os penedos que lhe dão acesso, que não resistimos a transcrever uma pequena referência que lhe faz Aquilino Ribeiro, que como nenhum outro soube (d)escrever as Beiras: “Não se podia beijar a imagem, atestada a cafurna com um rolho de romeiros, e porque o padreca só consentia o acesso a quem trouxesse bagulho. Para dar a volta à penedia, por um escoadoiro acanhado até ao passo da ilharga, era um tormento. Mas, por suas grandes mercês, ninguém regateava à Virgem aquelas compressões do bandulho, trilhadelas e os riscos da gatunagem”.

Fruto da devoção salientam-se as múltiplas oferendas à Senhora da Lapa. Entre a grande diversidade (ceras, produtos agrícolas, ex-votos pintados, dinheiro...) permitimo-nos salientar dois exemplos: um precioso relicário em prata e um crocodilo. Leu mesmo bem: um crocodilo! Está embalsamado e pendurado no tecto da sacristia, e é desde há muitos anos uma das grandes curiosidades do local. Há quem se desloque de propósito à Lapa para o ver, relegando a pequena Imagem para segundo plano. Não se sabe também como aí foi parar, havendo mesmo algumas explicações lendárias. Tratar-se-á, contudo, de uma oferta de agradecimento de um devoto, quem sabe se para cumprir alguma promessa feita numa situação em que se terá visto confrontado com tal “bicho”!

Como chegar

Relativamente bem sinalizado, é possível aceder com grande facilidade ao Santuário da Lapa a partir da estrada nacional nº226, saindo de Trancoso ou de Sernancelhe. Não leve espingarda, como aconselhava Sant’Anna Dionísio. Ir equipado com uma máquina fotográfica é bem mais útil

Como ver

Chegados à Lapa aconselhamos a que deixe o carro à entrada da povoação. Assim poderá observar melhor o pelourinho, as lojas com produtos tradicionais – incluindo um saboroso queijo - e a bela arquitectura dos edifícios que antecedem o “Colégio” dos Jesuítas e a pequena igreja barroca que esconde a gruta da Senhora da Lapa. Se a igreja é modesta, vale contudo a pena reparar no seu portal renascentista. No interior, e depois de observar a Imagem após ter acedido à gruta pela estreita passagem na qual “aqueles que não tinham fé não conseguiam passar”, não deixe de observar um belíssimo presépio de barro cujas figuras são atribuídas à escola de Machado de Castro e, claro está, não deixe de visitar o “crocodilo”...


Quintelasantuario.jpg (132850 bytes)

Orago: S. João Batista

Pop.: 417 Hab.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa

À freguesia de Quintela, há quem lhe chame também Quintela da Lapa, talvez porque aqui existe uma importante festa romeira à Senhora da Lapa, no mês de Junho, ou porque se situa numa espécie de planalto, na chamada serra da Lapa. Aqui nascem o Vouga e o Paiva, rios que já são referidos num documento de 1124.

Na sua origem mais remota, o povoado de Quintela dependia de Cria Velha (na serra de Leomil), uma povoação romana documentada por inscrições aí encontradas do tempo dos imperadores Marco Aurélio e Antonino e que perdurou pela Idade Média como concelho.

A freguesia adquiriu nome em toda a Beira, por aqui se ter fundado o célebre santuário dedicado à Nossa Senhora da Lapa, o qual tinha um colégio anexo de muito frequência e prestígio.

Com a extinção da Companhia de Jesus, o colégio onde funcionou o noviciado até 1754, passou à posse da coroa.

O Santuário também construído sob orientação dos Jesuitas, era, segundo o Abade Moreira "grandioso, com escadaria cavada na rocha viva que alto arco sobrepuja". As informações documentais veiculam a lenda comum a muitos sítios antigos de culto, por regra ermos e bem enraizados na devoção dessas populações.

A freguesia beneficiou da presença dos religiosos da Companhia, pois até aí era pouco mais que deserta (1576), sobretudo no que respeita à Lapa. Um século depois foi elevada à categoria de Vila, com pelourinho e cadeia.

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