Obama e europeus tentam salvar economia mundial
Europa com muitas vozes dissonantes recebe hoje o presidente dos Estados Unidos
Últimos preparativos nas figuras de cera de Barack Obama e da Rainha Elizabeth, no museu Madame Tussauds, em Londres |
O "Air Force One" aterra esta terça-feira em Londres com um passageiro paradoxal, feito de esperança e fragilidade.
Não pelo que encerram a figura e as políticas de Barack Obama, mas porque se move em circunstâncias muito limitativas.
Vários são os motivos que transformam a cimeira do G-20, ponto primeiro na agenda europeia do presidente dos EUA, num desafio complexo. Tanto pelo principal assunto em debate - a crise financeira mundial - como por encontros bilaterais à margem do programa, Barack Obama terá de provar muita coisa para que Washington possa continuar a assumir o papel de liderança que não sai da retórica oficial. Os entraves são vários, seja pela crise e pelas saídas apresentadas, seja pela ausência de um interlocutor europeu com voz unificada, seja pelo desejo de protagonismo de outras potências.
Ontem, foi notícia uma fuga de informação que torna a posição europeia mais distante do apoio que Obama gostaria de ter. O rascunho da declaração final do G-20, elaborado pelo Governo britânico, foi dado à estampa pela revista alemã "Der Spiegel", criando profundo mal-estar. Isto porque se supõe que, como noticiou a Imprensa do Reino Unido, a fuga tenha sido "um acto deliberado de sabotagem" levado a cabo por fontes do Governo alemão, numa altura em que Angela Merkel estará a assumir uma posição mais cautelosa do que a de Gordon Brown, no que toca a medidas para estimular a economia.
Sendo Brown, como antes fora Blair, o eco aquém-Atlântico das pretensões americanas, a verdade é que estas podem não ter o êxito desejado. Mesmo havendo na Europa vozes mais amigáveis do que noutros tempos, a verdade é que o desconcerto europeu (traduzido, ainda, pelos entraves à ratificação do Tratado de Lisboa) torna mais incerta a liderança desejada por Washington.
No seio dos países mais industrializados e potências emergentes há, claro, fortes ressentimentos em relação ao capitalismo de tipo americano. Obama terá dificuldades em convencer os governos a gastarem mais, para estimularem as economias, como, dentro de dias, terá dificuldades em convencer os membros da OTAN a enviarem mais tropas para o Afeganistão (a prioridade militar de Washington), em vez de saírem desse cenário de guerra. Não será fácil, ainda, suster o crescendo de protagonismo da Rússia e da China, não será fácil dar novos passos nas propostas de diálogo feitas ao Irão, que não suscitaram qualquer entusiasmo da república islâmica.
Um porta-voz da Casa Branca já disse, esta semana, que Obama vem à Europa para ouvir, não para liderar. Uma concessão estratégica, mas sem grande margem de manobra, pois cedências são pouco permitidas ao presidente dos Estados Unidos, seja ele quem for.
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