A Câmara de Viseu vai pedir uma assembleia extraordinária para tomar posição sobre a recusa do Governo em criar a Universidade Pública. Fernando Ruas admite reeditar os protestos de finais da década de 90, se essa for a vontade do povo.
O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, informou, anteontem, o presidente da Câmara Municipal de Viseu (CMV), de viva voz, que ainda não é nesta legislatura que a região terá a Universidade Pública. Uma decisão que inviabiliza, por seu turno, a também antiga aspiração da Faculdade de Medicina.
Fernando Ruas sublinha a "deferência" com que foi tratado por Mariano Gago, louva até a sua "frontalidade", mas avisa que os passos seguintes serão ditados pela vontade dos cidadãos.
A exemplo do que aconteceu em finais da década de 90, quando Viseu perdeu a Faculdade de Medicina (com um estudo elaborado pelo ex-ministro da saúde Correia de Campos) para a Covilhã, alegadamente por influência do então ministro José Sócrates, Ruas admite liderar novo protesto.
"Criar um movimento, fazer manifestações, estou disposto a tudo. A Assembleia Municipal, representante da população, ditará o caminho", declara o autarca.
Premonitória da que viria a ser a decisão negativa da tutela, foi a carta que os deputados do PSD, eleitos por Viseu, enviaram no início da semana ao ministro Mariano Gago.
Naquele documento, os deputados social-democratas não escondem a sua "revolta" contra o ministro, "um dos mais antigos membros do Governo", acusado de fazer tábua rasa das ambições de Viseu em ter a Universidade Pública e a Faculdade de Medicina.
Sem porem em causa a legitimidade de Aveiro - a "cidade-irmã" contemplada com um curso de Medicina -, os parlamentares acusam o Governo de ignorar as excelentes condições de Viseu no domínio da saúde. Designadamente "a existência de um hospital central, a Universidade Católica com um excelente curso de Medicina Dentária e uma Escola Superior de Súde com vontade de crescer", lembram.
Almeida Henriques, coordenador dos deputados do PSD, lembra que a candidatura de Aveiro foi espôntanea. Não foi sujeita a regras concursais. E que o envolvimento no seu projecto dos hospitais de Viseu e de Tondela "prova que o Partido Socialista sabia o que se estava a passar e não saiu em defesa da sua região".
Acácio Pinto, deputado socialista, rejeita a acusação. E contrapõe três razões que fazem recair as responsabilidades sobre o PSD. "O curso de Medicina de Aveiro está assente em parcerias e sinergias com a Universidade do Porto. Em 2002, Viseu também tinha uma parceria com a Universidade de Aveiro para a criação do Instituto Universitário, em fase de promulgação pelo Presidente da República, que não foi para a frente porque o PSD não quis. E não podemos deixar de relevar a importância de termos dois hospitais da região a fazer formação no projecto de Aveiro".
Carlos Vieira e Castro, do Bloco de Esquerda, acusa Fernando Ruas e o PSD de terem inviabilizado o instituto universitário. E garante que não vai para a rua protestar, "para esse peditório já dei".
"Qual foi o projecto de universidade que o presidente da Câmara de Viseu propôs a Mariano Gago? A conversa que teve com o ministro foi pessoal, foi em audiência, foi em nome do concelho de Viseu ou do distrito? A recusa do ministro foi pessoal ou em nome do Governo? Afinal, estamos a falar de quê?". ironiza Hélder Amaral, deputado do CDS/PP, que tenciona interpelar o Governo sobre esta matéria.
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