abandonar os elementos mais velhos da família nas urgências dos hospitais para poderem celebrar esta quadra sem "estorvos". Viseu não foge à regra e, nesta altura, regista alguns casos
de abandono e aumento de procura de lares
No início de Dezembro, ou mesmo antes, já se começam a fazer planos para o Natal e para a passagem de ano. É preciso pensar na ementa, nas prendas, na roupa, nas pessoas a convidar e, principalmente, no local onde deixar os idosos que, na opinião de alguns, "atrapalham" a comemoração e o normal funcionamento da festa.
A solução? Muitas vezes, passa pelo abandono nas urgências dos hospitais: primeiro inscrevem os idosos e, depois, garantem que os vão buscar. A data da "entrega" é antes do Natal e a "recolha", quando é feita, já só acontece no ano seguinte.
Manuel João Dias, director do Centro Distrital da Segurança Social de Viseu confirmou, ontem, ao Diário de Viseu que "o que se verifica nesta altura é que as famílias criam alguma dificuldade, deixam os idosos para ter alguma mobilidade".
Na sua opinião, "o problema que se põe nesta fase é que as pessoas querem algum tempo livre e não querem estar a despender muitos esforços para procurar uma solução que corresponda aos interesses de ambas as partes".
Assim, preferem ir pelo caminho mais fácil, "que é ir às urgências dos hospitais, inscrevê-los, deixá-los lá e depois não há ninguém para os ir buscar", argumentou. Por outro lado, adiantou que, por exemplo, nas famílias onde há algum elemento portador de deficiência, a Segurança Social tem instituições disponíveis para acolher essas pessoas. "Não é fácil tratar de uma pessoa com deficiência" e assim é uma forma "tirarem umas férias", disse. Nem sempre pode ser quando as pessoas querem, porque depende da lotação das instituições.
Também o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, Magalhães Soeiro, disse que há mais procura de lares para idosos na época do Natal, devido a "problemas particulares e familiares". Quando ao apoio prestado pela Santa Casa, é igual ao que se faz ao longo do ano: apoio domiciliário a vários idosos, aos quais entregam comida e fazem cuidados de higiene.
Hospital de S. Teotónio
com casos esporádicos
Ao contrário de muitos hospitais do país que, nesta altura, se transformam num local para depositar idosos, o São Teotónio, em Viseu, parece não acompanhar esta tendência. Alexandre Ribeiro, presidente do Conselho de Administração, garantiu, ontem, ao Diário de Viseu que "não há nenhum caso de abandono" no Hospital de São Teotónio. "É normal acontecer isso. Esporadicamente, temos casos de crianças e idosos que por qualquer motivo são deixados no Hospital", explicou, dizendo que, nessas situações, o "serviço social, em colaboração com a Segurança Social, tem resolvido os problemas".
Esses casos esporádicos, segundo Alexandre Ribeiro, resumem-se a um ou dois que são resolvidos "em poucos dias com uma boa resposta social". O reencaminhamento para instituições de acolhimento da Segurança Social, como lares e unidades de cuidados continuados são algumas das soluções para idosos e crianças que são deixados à sua sorte durante algum tempo.
Alexandre Ribeiro referiu que, há algum tempo, havia seis ou sete crianças abandonadas, mas o último caso de abandono foi na semana passada, não se registando mais nenhuma situação desde aí. Esclareceu que esse "não é um problema" que os preocupa, uma vez que são "muito raros os casos".
Fome leva pessoas
às urgências
Além do abandono, há quem procure por iniciativa própria um serviço de urgência para se alimentar ou, simplesmente, para permanecer num local quente. "A toxicodependência, a velhice e a solidão levam as pessoas às urgências, e quando a solidão está associada à doença, ainda é pior", sustentou o presidente do Conselho de Administração.
A estratégia é caírem ao chão para serem levadas pelo INEM para o Hospital, onde são tratadas, alimentadas e vigiadas. Mesmo que não lhes seja dada muita atenção, basta-lhes saber que não estão sós. "Temos de as receber, porque temos as portas abertas e a nossa função é zelar pelo bem-estar das pessoas", concluiu.
Refeitório Social
O refeitório social da Santa Casa da Misericórdia, situado na antiga maternidade de Viseu, vai realizar na noite do dia 24 uma consoada para as pessoas que habitualmente almoçam naquele local.
Com esta iniciativa, os frequentadores do refeitório poderão passar uma noite com os estômagos mais "aconchegados" e minimizar a dor da solidão.
Ao todo serão cerca de 60 pessoas, menos do que as que se dirigem ao refeitório todos os dias, pois como informou o provedor Magalhães Soeiro, "a família vem buscar alguns" para passarem a noite.
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