São cerca 500 cães e 200 gatos, muitos deles abandonados, que vivem nas instalações da União Zoófila em Lisboa.
A comida escasseia: só há alimento para mais 15 dias. Os responsáveis não escondem a preocupação.
Luísa Barroso, presidente da União Zoófila, confessou estar "muito assustada" com o facto dos armazéns de alimentos da instituição estarem quase vazios. Com cerca de 500 cães e 200 gatos para alimentar diariamente, a responsável calcula que as actuais reservas de ração "só cheguem para mais ou menos 15 dias". "Costumamos ter três armazéns de ração cheios, mas, nesta altura, tenho apenas meio armazém", explica, enquanto exibe arcas e contentores vazios.
Apesar das graves dificuldades financeiras - são cada vez mais os sócios que não pagam as quotas - a União Zoófila vai comprando alguma comida e sobrevivendo à custa da generosidade de algumas - poucas, insuficientes - pessoas "Temos mendigado aos amigos para que tragam uma latinha por dia", prossegue a responsável, sublinhando, por exemplo, a gravidade da escassez das "latas de patê", fundamentais para se fazer a mistura. Falta ainda a medicação para os animais doentes - 142 cães, neste caso.
Por outro lado, as instalações da União Zoófila - instituição com 57 anos de história - encontram-se visivelmente degradadas. Há mais de dois anos que não se fazem obras de manutenção e chove em várias "boxes". Também já não há espaço para receber mais animais. Está sobrelotada de dois tipos de cães: os errantes (ou chamados "vadios") e aqueles que já tiveram donos, muitos deles de raças como Dálmata, Golden Retriever, ou Husky Siberiano.
"São quase todos cães abandonados", explica Luísa Barroso, citando "muitos casos em que os donos morreram e os familiares não quiseram ficar com eles" ou situações em que "se a criança espirra, a culpa é logo do cão".
Na óptica da responsável, a crise financeira tem também levado muita gente a deixar os cães junto ao portão da instituição. "Se têm um animal em casa é logo a primeira coisa a cortar. Não cortam nas idas ao cinema, nas férias, nos restaurantes. O animal é o primeiro a ser sacrificado", aponta.
A União Zoófila conta com 11 trabalhadores remunerados - sete tratadores e quatro veterinários - e cerca de 50 voluntários. Além de algumas ajudas de particulares, os apoios escasseiam. A Câmara Municipal de Lisboa, por exemplo, cedeu o terreno mas, diz a responsável, "actualmente apenas faz o favor de vir buscar os cadáveres uma vez por semana". Luísa Barroso frisa que as autarquias deviam adoptar outra política de apoio aos animais: "Podiam proporcionar a esterilização dos errantes e a vacinação gratuita". A presidente da União Zoófila lamenta também que a EPAL "não tenha um gesto simpático", fazendo "um desconto na conta da água" apesar de vários pedidos nesse sentido.
"Nós não ganhámos nada com isto", disse, "a não ser ficarmos com o coração mais cheio com os sorrisos e a simpatia que os cães e os gatos nos podem devolver".
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